No dia 25 de janeiro deste ano, a cidade mineira de Brumadinho foi atingida por uma grande quantidade de lama após o rompimento da barragem do complexo da Mina Córrego do Feijão. A tragédia ambiental ocorreu três anos depois do rompimento da barragem de Mariana, também em Minas Gerais, e ambas comandadas pela Vale.
E foi justamente o caso de Mariana que fez o geofísico Igor Braga ter uma ideia de como evitar esse tipo de desastre. “Foi uma indignação coletiva saber que era possível ter previsto esse acidente”, diz o carioca, que criou um sensor capaz de medir anormalidades em locais de barragens. Braga é o fundador da startup Invision Geofísica, empresa que oferece consultoria e serviços relacionados ao processamento de dados sísmicos.
Atualmente, muitas barragens são monitoradas por piezômetros e INA (Indicador de Nível da Água), dois medidores instalados em pontos afastados um do outro, em que só é possível enxergar o nível da água nos locais em que estes sensores estão. “Mas entre um instrumento e outro pode estar acontecendo algo fora do normal”, explica Braga, que ressalta que as mineradora estão cobertas pela lei realizando esse tipo de monitoramento.
O método que Braga decidiu utilizar para monitorar barragens é chamado de microsísmica ou sísmica passiva, já utilizado em locais como o Havaí há mais de 100 anos para prever terremotos e que foi adaptado para ser usado no Brasil. O sistema conta com diversos sensores que poderão ser instalados por toda a estrutura das barragens, construindo uma rede capaz de captar as mais diferentes vibrações, que vão desde tráfego de caminhões até explosões com dinamite.
A análise dos dados coletados tornará possível diagnosticar situações atípicas nos arredores das estruturas de barragens, possibilitando direcionar ações de segurança, seja de manutenção ou mesmo emissão de alertas e evacuação em casos mais graves.
Com o apoio do Instituto Federal Fluminense por meio da EMBRAPII, a Invision Geofísica conseguiu o dinheiro necessário para desenvolver o sistema que tem previsão de ser finalizado neste mês.
No entanto, Braga conta que, apesar da importância do projeto, é muito difícil o processo para conseguir financiamento público. “Há três anos fomos aprovados para a chamada pública Inova Mineral, iniciativa conjunta do BNDES e da Finep. A tecnologia já poderia ter sido impulsionada, mas até hoje essa verba não foi liberada”, diz Braga. “A lentidão do poder público deixa as tecnologias atrasadas. Temos um grupo de bons cientistas no Brasil, mas com uma grande dificuldade financeira.” Com edição de Thiago Tanji / GALILEU