Hospitais registram alta de crianças internadas em Goiânia com casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave
Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde da Capital. No Brasil os casos aumentaram 43%
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) se tornou um termo mais conhecido durante a pandemia por se tratar de um problema que também pode ser ocasionado pela Covid-19. Mas, o vírus não é o único vilão para essa enfermidade que fez mais de 35.600 crianças serem internadas por SRAG no Brasil, segundo apontam dados da Infogripe da Fiocruz, por meio de informações do Ministério da Saúde (MS). Esse total representa um um aumento de 43% se comparado com o do ano passado em pessoas na faixa etária de 0 a 11 anos.
No mesmo período de 2021 foram registrados 24.878 casos de internações por causa da síndrome. Para especialistas as causas são diversas e existem casos de que a síndrome é apenas crônica como asma e bronquite.
A vendedora Gleicimeire Marques dos Santos, 28, é mãe da Maria Clara, 6, que possui tanto asma quanto bronquite. Gleicimeire descobriu a enfermidade da filha assim que a menina nasceu e o médico fez ela passar por vários exames até o diagnóstico correto. Maria Clara deu sua primeira parada respiratória aos 2 meses de vida. Desde então, constantemente a menina passava por crises devido aos problemas pré existentes.
Atualmente as enfermidades da pequena Maria estão controladas, mas em épocas mais frias a mãe volta a ter cuidado redobrado, além de sempre andar com a bombinha da menina em mãos.
“Quando está frio eu procuro deixar ela bem quentinha. Outra coisa que eu faço também é deixar ela longe de pessoas que fumam porque ela dá crises quando por causa do cheiro do cigarro”, conta.
A diretora de epidemiologia Grécia Carolina Pessoni conta que em 2022 o município teve uma média de 185 crianças que internam por mês. Em janeiro deste ano foram 155 crianças internadas pela SRAG; em fevereiro 257; em março 258; abril 154 e maio 112 crianças até o último levantamento totalizando 926 crianças.
Para a diretora o aumento pode sim estar relacionado a pandemia de Covid-19. “Essas doenças respiratórias afetam muitas crianças, principalmente menores de 5 anos que ainda não receberam a vacina contra a Covid-19 . Mas, em todos os anos nós temos circulação dos vírus respiratórios não só do coronavírus, mas de outros vírus como o rinovírus, influenza que também causam internações”, explica.
Grécia orienta que os pais devem ficar atentos assim que surgem os primeiros sintomas de gripe nos filhos. “Quando a criança está gripada observar se é algo leve, se é gripe. Se a criança tiver dois sintomas, por exemplo, como nariz escorrendo e tosse, o ideal é que não mande essa criança para a escola para evitar transmitir para outros coleguinhas e também evitar gravidade”.
A diretora salienta também que ao apresentar o mínimo sintoma respiratório a criança deve ser levada ao médico para tratar da melhor forma. Pode ter casos da doença que não seja necessário antibióticos por serem virais e na maior parte das vezes a doença se resolve espontaneamente. Atualmente estão internadas em Goiânia por Síndrome Respiratória Aguda Grave 58 crianças nos últimos 10 dias que até então não receberam alta hospitalar.
Situação do Estado
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Ses-GO) no período de 1º de março a 25 maio de 2022, o Complexo Regulador Estadual (CRE) recebeu 9.972 solicitações para pacientes neonatais e pediátricos. A pasta destaca que no quadro geral, considerando todos os CID solicitados (SRAG) a quantidade de pedidos está estável. “Não houve aumentos significativos”.
Em relação a solicitações de regulação de vagas de internação e de atendimento de urgência, no período, houve 2.650 solicitações, o que representa no universo total destes dados, 26.57% dos casos recebidos pelo CRE.
Em 2022, no mês de março foram 988 pedidos; em abril foram 890 pedidos e em maio foram 772 pedidos (considerando 25 dias) segundo a Ses – GO. “Extrapolando os dados de maio de 2022 para uma previsão de 30 dias, por regra de três simples, temos estimativa de finalizar maio com cerca de 926 solicitações. Isso mantém a curva abaixo da média, que dos três meses será em média de 934 pedidos de regulação pediátrica para doenças respiratórias por mês”.
Segundo a secretaria, os dados apresentados referem-se aos pedidos de vaga regulada feito pelas unidades de saúde no Estado de Goiás ao CRE, não contemplando os dados de volume de atendimentos nos hospitais.
A pasta reforça que o “Estado tem intensificado a vacinação das crianças e orientado quanto à importância da adesão às medidas de prevenção das doenças respiratórias”.
Entenda a diferença entre síndrome gripal e SRAG
A Síndrome Gripal (SG) não pode ser confundida com Síndrome Respiratória Aguda Grave. De acordo com a pneumologista infantil, Raquel Vidica a síndrome gripal é qualquer quadro respiratório agudo caracterizado por febre, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, obstrução nasal, dor no corpo e alterações no olfato ou paladar. Já a SRAG abrange o quadro de síndrome gripal que evoluem para o comprometimento da função respiratória, levando a dispneia, desconforto respiratório, dor no peito e queda de saturação – inferior a 95 %.
“Dentre os principais agentes etiológicos causadores da SRAG estão os vírus (influenza A, vírus sincicial respiratório, adenovírus, coronavírus) e também algumas bactérias (como pneumococos e outras bactérias)”, esclarece a especialista.
Segundo ela, crianças com menos de 5 anos de idade estão mais suscetíveis a desenvolver SRAG. “O tratamento vai variar de acordo com a causa (agente etiológico) e com o quadro clínico apresentado pelo paciente. Por exemplo,em pacientes com queda de saturação será necessário o uso de oxigenoterapia. Em pacientes com com detecção do vírus influenza A H1N1 deve-se usar o oseltamivir. Portanto, o tratamento não é igual para todos os casos de SRAG”.
Para a pneumologista infantil o principal fator para o aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave é a pandemia. “Em primeiro lugar, o coronavírus é um dos agentes causadores da SRAG. Em segundo lugar, as crianças ficaram boa parte da pandemia mais isoladas que os adultos. Então, o sistema imunológico das crianças (que se desenvolve muito pelo contato com os agentes infecciosos) estava despreparado para o grande número de vírus que estão tendo contato no momento”, explica.
Crianças com menos de 2 anos estão mais vulneráveis nesse sentido, e SRAG são mais comuns nesta faixa. “Para a prevenção de SRAG, devemos tomar as mesmas medidas para a prevenção de SG , que são evitar contato com pessoas contaminadas, lavar as mãos e uso de álcool em gel com frequência e evitar aglomerações”. Em caso de qualquer sintoma gripal é essencial evitar contato com outras pessoas conforme ressalta Vidica.
Raquel Vidica explica como diferenciar asma e bronquite da Síndrome Respiratória Aguda Grave. “ A asma é uma doença crônica que possui episódios de exacerbações. Essas exacerbações podem ser causadas por vírus e, quem tem asma pode ter maior risco de gravidade (especialmente em pessoas que não tem o bom controle da doença), o mesmo se aplica a bronquite”, finaliza.