O jornalista Batista Custódio, fundador do Diário da Manhã não resistiu a um câncer no pulmão e faleceu na manhã desta última sexta-feira (24/11), no Hospital São Francisco. Ele foi internado no último dia 3 deste mês para tratar uma pneumonia e de lá não saiu.
Ele deixa seis filhos e cinco netos, além de uma trajetória marcada pela fundação do jornal Cinco de Março que precedeu o Diário da Manhã.
Em evento realizado em Abadia de Goiás, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) decretou luto oficial de três dias. “Contribuiu com a história de Goiás. Um dos homens mais cultos que eu conheci. Foi uma referência no jornalismo brasileiro e respeitado nacionalmente pelo conteúdo e preparo intelectual de suas matérias”, destacou durante o discurso.
O governador Ronaldo Caiado e o prefeito de Goiânia Rogério Cruz decretaram luto oficial de três dias. A medida demonstra uma fatia mínima do que representava a figura oponente de Custódia que tinha trânsito livre nos poderes goianos há mais de 60 anos.
“Goiás perdeu hoje um dos seus maiores comunicadores”, disse, pela rede social X, o governador. “Foi um dos grandes de nosso estado e seu nome ficará gravado na história. Um dos homens mais cultos que conheci e que foi referência no jornalismo brasileiro”, escreveu ele sobre a importância do trabalho chefiado por Custódia nos dois jornais em que esteve à frente durante décadas.
Por causa de uma prática inovadora, de abrir o jornal para publicação de artigos de seja lá quem for, com caderno que depois se chamaria Opinião Pública, ganhou, da Academia Brasileira de Letras (ABL), o título de terceiro lugar de Melhor Veículo de Comunicação do Brasil. Isto foi lá em 1984, quando o Brasil corria em busca de retorno à democracia.
Por meio de nota, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, que teve encontros com o jornalista em sua residência, onde costumava receber personalidades políticas e admiradores, também emitiu nota.
“É com imenso pesar que eu e minha família recebemos a notícia do falecimento do jornalista Batista Custódio”, para o qual Cruz classifica como “um baluarte da liberdade de expressão e da imprensa livre, um defensor da democracia que marcou seu nome profundamente na história de Goiás e do Brasil”.
A triste notícia da morte do fundador dos jornais “Cinco de Março” e “Diário da Manhã” abalou não apenas o círculo mais próximo, mas também alcançou diversos setores da sociedade que reconheciam sua importância e contribuição para a setor no país. Em respeito a todos aqueles que admiravam Batista Custódio, a família divulgou uma nota de Luto, pela perda do jornalista.
Na nota, a família ressaltou que Custódio lutou até o último instante, mas infelizmente, o “corpo de 88 anos, já não comportava o espírito combativo do guerreiro que inspirou gerações” diz o texto.
“O jornalista Batista Custódio lutou bravamente nesta madrugada, após ter entrado na UTI do Hospital São Francisco de Assis. O corpo de 88 anos não mais comportava o espírito combativo do guerreiro que inspirou gerações de jornalistas, amigos e familiares, e deixou um legado permanente de luz, luta e resignação.”Nota de luto da família
Ele é uma pessoa insubstituível e formou a grande maioria dos jornalistas de Goiás”, destaca o filho de Batista Custódio e diretor do Diário da Manhã, Júlio Nasser sobre o pai. Nasser revela como Custódio passou os últimos momentos da vida. Otimista, queria viver, mas já percebia que sua passagem na terra estava próxima do fim.
Um dia antes da partida, ele recebeu uma carta psicografada do filho já falecido, Fábio Nasser, que foi lida em voz alta. Os familiares destacam que o ícone do jornalismo brasileiro, se manteve lúcido até o último instante. Segundo a nota, o jornalista fez sua passagem para o plano espiritual as exatas 8h25 da manhã desta sexta-feira, 24 de novembro.
Ditadura
Perseguido e preso na ditadura, Batista Custódio foi luminar de uma era de ouro da imprensa. Sua morte coloca fim a uma parte da história que atravessa os tempos.
Valor Profissional
Batista abriu mão de qualquer espécie de indenização por parte do Estado após a abertura democrática. E sempre optou pela imprensa em vez de cargos públicos ou mandatos. Herdeiro intelectual de Alfredo Nasser, ex-senador da República e ex-ministro da Justiça, ele construiu um capítulo dentro da liberdade de imprensa.
O DM surgiu em 1980 após Batista Custódio, Telmo de Faria e Consuelo Nasser terem se aventurado na época, como estudantes de agrimensura e secundaristas em preparatório para o curso de direito, na redação do “Cinco de Março” nas décadas de 1950, 1960 e 1970.
Este último foi um instrumento de defesa contra políticos corruptos e apaniguados do poder, principalmente os defensores da ditadura militar.
Conforme relatos históricos em teses acadêmicas, o “Cinco de Março” surgiu diante de uma premonitória manifestação de estudantes, que foi reprimida pela polícia. Após o enfrentamento, os jovens se reorganizaram. Um dos produtos deste embate foi o “Cinco de Março”.
No início da década de 1980, a equipe do “Cinco de Março” deu um passo à frente e lançou o Diário da Manhã.
O DM rapidamente tornou-se escola de grandes profissionais, caso de Jorge Braga, Renato Dias, João Bosco Bittencourt, Ulisses Aesse, Marco Antônio Lemos, dentre outros.
Hoje, nomes de destaque da mídia nacional e correspondentes internacionais levam um pouco de suas histórias no DM. É o caso da jornalista da TV Globo, Lilian Teles, que iniciou sua carreira em 1987, no DM. Jornalistas já falecidos, caso de Cristina Lôbo, que frequentou a redação de ambos e do extinto “Folha de Goyaz”, ‘aprenderam’ jornalismo no DM.
O jornal é considerado uma escola de grandes jornalistas. O “Cinco de Março” venceu o prêmio Esso de 1964, ano em que o jornal se reorganizou em decidiu enfrentar, de vez, a ditadura.
Tanto o “Cinco de Março” quanto o Diário da Manhã sofreram ataques dos governantes, que, ancorados no conservadorismo, tentaram destruir a flama da liberdade.
Considerado um dos maiores jornalistas e editorialistas do país, Batista comandou redações com os melhores profissionais do jornalismo brasileiro, caso de Washington Novaes e Aloysio Biondi. Sob sua batuta, ganharam prêmio Esso e outras condecorações, como o terceiro lugar de Melhor Veículo de Comunicação do Brasil, honraria concedida pela Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1984.
O jornal segue sob presidência de Júlio Nasser, com destaque em sua edição online e impresso.
Batista Custódio, a entidade que formou jornalistas
Atualmente, uma multidão de jornalistas, dentro (ainda) e fora das redações, trabalhando em assessoria ou bem longe do jornalismo, entenderam, no cotidiano do trabalho com Batista Custódio, como era o ofício.
Na memória, o jeito turrão, mas didático, de quem conviveu com algumas das estrelas do jornalismo brasileiro, que iam, de Washington Novaes, Aluísio Biondi Paulo Henrique Amorim. Sob a influência opinativa dos contemporâneos, decidiu colocar cores em todo o jornal, saindo na frente dos grandes.
Mais tarde, diante da evolução tecnológica, online, decidiu colocar todo o seu conteúdo gratuito no endereço virtual do jornal. Sob o comando do seu filho, Júlio Nasser, promoveu a estruturação de um canal de TV via internet, onde transmitia jogos.
Como diversos jornalistas ressaltaram, Batista não comandava apenas o Diário da Manhã na capital goiana, com tiragens que percorriam vários estados, mas mantinha o Diário da Manhã de Cuiabá e a Folha de Goiás, em Goiânia.
No auge do sucesso do conglomerado de imprensa, o grupo de Custódio também tinha emissoras de rádio e TV. Com tudo isso, atingiu o recorde de 5° maior tiragem do País.
A Associação Goiana de Imprensa (AGI), entidade que Batista Custódio presidiu, pelas redes sociais, externou solidariedade à família. “Por seus conselheiros, associados e diretores, manifesta o seu profundo pesar diante do falecimento do jornalista que fez história na imprensa goiana e brasileira. Foi, sobretudo, um defensor da democracia e da liberdade”.
O corpo do jornalista foi velado na sexta-feira no cemitério Jardim das Palmeiras e sepultado no sábado no Cemitério Santana.