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“Quando um engenheiro trabalha como Uber, é preciso melhorar a economia e não fechar universidades”, diz ex-ministro da Educação

Renato Janine discorda que a “universidade é para poucos”, pois, quando o Brasil prospera, uma das primeira coisas que aparecem é a falta de pessoal qualificado, como engenheiros.

Nesta coluna, Renato Janine Ribeiro comenta uma fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que afirmou que a universidade deve ser para poucos e que o foco deveria ser a formação técnica, por meio dos institutos federais.

Para o colunista, a afirmação é um equívoco. Janine lembra que, em 2002, o Brasil tinha cerca de 3 milhões de alunos no ensino superior e, quando a ex-presidente Dilma Rousseff saiu do cargo, em 2016, esse número era de cerca de 8,5 milhões. Um aumento aproximado de 10% para mais de 20% de jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior, nesse período.

Janine conta que, ao ocupar o cargo de ministro da Educação, entre abril e setembro de 2015, aprendeu que há uma linha divisória de 16%: abaixo disso, o País é muito elitista; acima disso, as coisas começam a melhorar. Argentina e Uruguai, diz o colunista, têm mais de 30%, enquanto os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estão na faixa dos 50%.

“Quanto ao argumento do ministro de que há engenheiros que estão trabalhando como Uber, esse problema é mais da economia do que da educação, é um sinal de que a economia não está bem, é um sinal de que o Brasil está desperdiçando talentos”, aponta. Para Janine, há todo um potencial humano no País que precisa ser desenvolvido. E, nos momentos em que a economia do País está prosperando, uma das primeiras coisas que aparecem é a falta de pessoal qualificado, principalmente engenheiros.

Janine comenta ainda sobre os institutos federais, que têm um papel importante no ensino técnico, a exemplo do que é feito pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Para o professor, é muito importante a formação de técnicos para a economia, mas isso não significa, de modo algum, que a formação universitária deva ser liquidada.

‘É difícil fugir da sensação de fracasso’, diz jornalista que virou Uber

Profissional com 30 anos de carreira faz relato íntimo de como ele e outros colegas se tornaram motoristas de aplicativo em meio ao desemprego.

Francisco Reis é jornalista e atualmente trabalha como motorista de aplicativo.

Francisco Reis é jornalista e atualmente trabalha como motorista de aplicativo. (Arquivo Pessoal)

Por Evanildo da Silveira

Lá pelo início da década de 1990, eu frequentava um misto de bar e lanchonete que ficava no andar térreo do meu prédio, na rua Heitor Penteado, na zona oeste de São Paulo. O dono era um português que havia brigado com seu sócio, o próprio irmão, que, não sei por que cargas d’água, acabou virando taxista. Então o “portuga” costumava dizer que, quando alguém não serve para mais nada na vida, vai ser taxista. Mais ou menos pela mesma época, li em algum lugar o saudoso Paulo Francis dizer que esta categoria de profissionais deveria ser fervida em óleo. Tirando o preconceito dos dois, eu até que achava graça.

A vida dá voltas e o castigo vem a cavalo, como dizem os clichês. Pois não é que cerca de 20 anos depois eu, jornalista com mais de 30 anos de carreira – que até havia pouco eu considerava mais ou menos bem- sucedida –, me transformei num desses profissionais. Não propriamente um taxista, mas um motorista de aplicativo, mais especificamente de Uber e 99. O que, pensando bem, é pior, pois se trabalha mais e se ganha menos que um verdadeiro taxista. São 10 ou 12 horas dirigindo pelo trânsito estressante de São Paulo, transportando todo tipo de gente, para os lugares mais estranhos ou perigosos, para faturar cerca de R$ 200 ou 250 por dia. Se o carro for alugado, como é o meu caso, mal dá para a locação e o combustível. Ninguém merece.

É claro, tanto o trabalho dos taxistas como o nosso de motoristas de aplicativos são dignos e merecem respeito. Mas para mim, e alguns colegas na mesma situação com quem conversei, é difícil, no entanto, fugir daquela sensação de fracasso. O sujeito se pergunta: onde foi que eu errei? E se lembra – pelo menos eu – daquela trilogia de filmes De volta para o futuro. Num dos episódios, o personagem de Michael J. Fox pega um desvio no tempo e vai parar numa época em que seu pai é um fracassado. Felizmente – para ele – o carro é um DeLorean, que funciona como máquina do tempo, e pode voltar e pegar o caminho certo. Infelizmente – para mim – não é meu caso. Estou preso no tempo errado.

GED

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