Apagão cibernético global tem impacto mínimo no Brasil
A empresa de cibersegurança CrowdStrike ainda buscava se consolidar no mercado brasileiro antes do apagão cibernético desta sexta-feira (19), quando uma atualização do programa de proteção levou computadores em todo o mundo a apresentar a “tela azul da morte” — sinal de apagão no sistema
Especialistas afirmam que a baixa presença da CrowdStrike no Brasil minimizou o impacto da pane global no país. A Receita Federal, por exemplo, manteve seus serviços funcionando normalmente por não utilizar o antivírus da empresa. Aeroportos e empresas aéreas brasileiros registraram poucos atrasos, enquanto nos Estados Unidos a falha global resultou em congestionamento do sistema de aviação, causando filas imensas e centenas de voos cancelados.
Essa disparidade também é evidente nos dados financeiros da empresa: dos US$ 693 milhões (R$ 3,8 bilhões) de receita no último trimestre, US$ 475 milhões (R$ 2,6 bilhões) vieram dos EUA, enquanto o Brasil contribuiu com apenas US$ 41 milhões (R$ 228 milhões).
Segundo Jesaias Arruda, vice-presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet), poucas empresas no Brasil e na América Latina têm a aptidão financeira para contratar a CrowdStrike, cujo software pode custar até dez vezes mais que um antivírus convencional. A empresa americana é preferida em mercados como Europa, América do Norte e Ásia, devido aos seus recursos avançados.
Fundada no Texas em 2011, a CrowdStrike atende principalmente negócios com sistemas em nuvem e se declara a primeira empresa de cibersegurança “nativa em inteligência artificial”. Seu software de defesa, Falcon, antecipa potenciais ameaças, atualizando automaticamente pacotes de informações sobre possíveis brechas de segurança.
Um dos clientes da CrowdStrike é o governo americano, que a contrata para investigação de ameaças cibernéticas. Dmitri Alperovitch, um dos fundadores da empresa, é membro do Conselho de Revisão em Segurança Cibernética, ligado ao Departamento de Segurança Interna dos EUA. A história da CrowdStrike está intimamente ligada à prestação de serviços para o governo americano, crescendo com o apoio da paranoia dos EUA em relação a ataques chineses e russos, segundo Pedro Henrique Ramos, professor de direito digital do Ibmec.
Em entrevista à Folha, Adam Meyer, vice-presidente de operações contra adversários da CrowdStrike, destacou a experiência da empresa na detecção de ataques de grupos cibercriminosos chineses e russos e mencionou os esforços da empresa para aumentar sua presença no Brasil, aproveitando as restrições norte-americanas à concorrente russa Kaspersky.
No Brasil, a CrowdStrike enfrenta a forte presença de outras marcas consolidadas como IBM, Accenture, ISH e Logicalis. Além disso, a economia brasileira está em um nível de digitalização inferior ao dos Estados Unidos, resultando em menor adoção de softwares de proteção voltados para redes corporativas e provedores de nuvem.
Para Alberto Leite, fundador do Grupo Security, especializado em serviços de segurança para nuvem, a situação pode ser considerada uma sorte para o Brasil. “Se por um acaso a CrowdStrike tivesse muitos clientes, o Brasil hoje estaria à mercê de uma empresa estrangeira, sem sócios nacionais, sem quadro de diretores relevantes para fazer frente às indenizações, aos danos ou prestar esclarecimento.”
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