Ex-marido da primeira-dama agia como lobista e trocava favores diretos com Wanderlei Barbosa, revela PF

Mensagens apreendidas pela Polícia Federal mostram Paulo César Lustosa atuando como intermediário em contratos milionários, sempre evocando sua proximidade com a primeira-dama e o governador afastado do Tocantins.
Paulo César Lustosa, ex-marido da primeira-dama do Tocantins, Karynne Sotero, foi apontado pela Polícia Federal como um dos operadores centrais de um esquema de fraudes em contratos públicos durante a gestão de Wanderlei Barbosa (Republicanos). De acordo com a decisão do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Lustosa utilizava sua relação pessoal com a ex-esposa e com o governador para garantir favorecimento em licitações e pagamentos de contratos milionários.
A investigação, que levou ao afastamento de Barbosa e de Karynne por 180 dias, é parte da Operação Fames-19, que apura desvios superiores a R$ 73 milhões na compra de cestas básicas e frangos congelados entre 2020 e 2021.
Caixa de diálogo: conversas reveladas pela PF
A seguir, trechos dos diálogos reproduzidos pela Polícia Federal, que demonstram a atuação direta de Paulo César Lustosa como lobista. O formato de caixa de diálogo evidencia a dinâmica das tratativas:
📱 Diálogo 1 – Pedido de interferência (outubro de 2022)

PC LUSTOSA: Olá governador, boa noite! É PC LUSTOSA, passando pra pedir que interfira junto ao Sec. […] da SEDUC. Nosso processo está dentro da legalidade, ele não quer nos pagar e quer que assinemos um termo de desistência. Sendo que TODO material já foi entregue. Está tudo ok, já estamos em fase de pagamento, não tem como cancelar. A empresa fornecedora está querendo buscar as vias judiciais pra resolver, tenho conciliado até o momento e impedido esta ação, porém não estou conseguindo mais. Por esta razão, estou pedindo a sua ajuda para resolvermos de maneira possível. Se puder resolver serei grato.
WANDERLEI: Boa noite.
PC LUSTOSA: Tudo bem?
WANDERLEI: Amanhã vou olhar e mandar alguém acompanhá-lo para resolver.
PC LUSTOSA: Nossa, obrigado!
WANDERLEI: Conte comigo.
📌 Resultado: o contrato foi pago em dezembro de 2022.
📱 Diálogo 2 – Pressão sobre empresa (2024)
PC LUSTOSA: Atende, rápido.
PC LUSTOSA: Projeto está com a Karynne, moço.
PC LUSTOSA: Ele, não podemos atravessar.
REPRESENTANTE DA EMPRESA: Sim.
PC LUSTOSA: Entregue hoje, te falei isso ontem.
PC LUSTOSA: Quero fechar com Karynne.
📌 Anotação da PF: Lustosa reclamava das dificuldades nas negociações devido ao “alto retorno” exigido para aprovação do contrato.
📱 Diálogo 3 – Conversa com a filha (18 de março de 2024)
PC LUSTOSA: Tudo certo.
FILHA: Pse pai.
PC LUSTOSA: Preciso arrumar minha vida, bagunçou demais.
PC LUSTOSA: Se tua mãe e Wanderlei ajeitar esse negócio da licitação pra mim e tudo, ajeito as coisas e não fico devendo mais pra ninguém.
📌 A PF destacou a dependência de Lustosa em relação ao casal para garantir negócios com o Estado.
Operador com acesso irrestrito
Segundo o STJ, Lustosa recebeu mais de R$ 1,3 milhão de empresas investigadas entre 2020 e 2022, além de movimentações suspeitas de lavagem de dinheiro. As provas reforçam que ele não apenas articulava licitações fraudulentas, mas também funcionava como ponte direta entre empresários, a primeira-dama e o governador.
O ministro Mauro Campbell ressaltou que o lobista tinha “amplo acesso à cúpula do governo” e que os diálogos comprovam tanto a influência de Lustosa quanto o envolvimento de Karynne Sotero e Wanderlei Barbosa.
Negócios além das cestas básicas
As investigações também apontaram atuação de Lustosa na representação de uma empresa de livros contratada sem licitação em 2022, por R$ 3 milhões. A PF afirma que o ex-marido da primeira-dama acionou diretamente o governador para destravar pagamentos, o que reforça seu papel de intermediário privilegiado em diferentes áreas da administração.
Defesa e reações
- Wanderlei Barbosa disse que respeita a decisão, mas a classificou como “medida precipitada”.
- Karynne Sotero afirmou estar confiante em comprovar sua inocência.
- A Seduc declarou que o processo referente aos livros tramitou com toda a regularidade e passou por órgãos de controle.
- Mauro Carlesse, ex-governador no período investigado, disse que não teve envolvimento com os fatos.