Transformação silenciosa muda o perfil do trabalhador goiano em uma década
Estado registra salto na escolaridade e queda histórica na sindicalização, revelando nova configuração do mercado de trabalho
Em meio às mudanças que redesenharam o Brasil na última década, o mercado de trabalho goiano passou por uma transição estrutural marcada principalmente pelo avanço da escolaridade e pela diversificação da força de trabalho. A tendência aparece de forma clara no levantamento mais recente da PNAD Contínua, divulgado nesta semana pelo IBGE, e mostra que Goiás vive hoje um cenário bastante distinto daquele registrado em 2012.
Ao observar os dados, chama atenção o crescimento expressivo do número de trabalhadores com ensino superior completo. Há doze anos, apenas 11,8% dos ocupados tinham formação acadêmica. Em 2024, esse percentual chegou a 21,6%, quase o dobro. A trajetória aponta para um mercado mais qualificado, influenciado pela expansão de universidades, programas de incentivo ao ensino e pela exigência crescente das empresas por profissionais com maior domínio técnico.
No movimento contrário, o grupo de trabalhadores sem instrução ou com fundamental incompleto encolheu de forma significativa. O segmento representava 32,6% dos ocupados em 2012 e, em 2024, caiu para 18,9%, assumindo a menor participação desde o início da série histórica. A substituição gradual dessa mão de obra reflete a ampliação do acesso à educação básica e o impacto das políticas públicas de escolarização durante os últimos anos.
Entre esses dois extremos, permanece consolidado o grupo com ensino médio completo ou superior incompleto, que reúne 44,9% dos trabalhadores goianos. A presença desse perfil intermediário cresceu mais de dez pontos percentuais ao longo da década e está diretamente ligada à força dos setores de comércio e serviços, que continuam absorvendo grande contingente de jovens escolarizados.
Outro recorte relevante da pesquisa revela um mercado menos vinculado a estruturas tradicionais de representação. Em Goiás, apenas 4,6% das pessoas com 14 anos ou mais estavam associadas a sindicatos em 2024, o terceiro menor índice do país. O número corresponde a cerca de 240 mil indivíduos e confirma uma tendência nacional de queda, impulsionada por mudanças na legislação trabalhista, maior rotatividade, ampliação do trabalho informal e novas formas de vínculo baseadas em aplicativos e autonomia operacional.
Mesmo com a baixa adesão registrada desde 2012, os dados indicam uma leve estabilização após anos de recuo, tanto no estado quanto no Brasil. A variação positiva entre 2023 e 2024, ainda que tímida, sugere que o movimento de queda pode estar atingindo um ponto de equilíbrio.
O retrato atual revela um mercado de trabalho goiano mais escolarizado, menos dependente de estruturas sindicais e em processo de reorganização interna, influenciado pela economia de serviços, pela inovação tecnológica e pelo comportamento de uma nova geração de trabalhadores.



