Economia & NegóciosNacional

Reprovação do Tesouro trava empréstimo de R$ 20 bilhões solicitado pelos Correios

Juros considerados excessivos impedem garantia da União, atrasam plano de reestruturação e colocam estatal diante da necessidade de renegociar condições ou buscar alternativas emergenciais

Por Ana Lucia
[email protected]

As articulações para viabilizar um empréstimo bilionário destinado à recuperação financeira dos Correios sofreram um revés decisivo após avaliação técnica do Tesouro Nacional. O órgão rejeitou a operação estruturada por um conjunto de cinco bancos ao considerar que a taxa de juros proposta ultrapassava o limite permitido para operações com garantia da União. A decisão, comunicada na última segunda ao comando da estatal, interrompeu momentaneamente o fluxo de negociações e reacendeu o debate sobre o futuro financeiro da empresa, que enfrenta prejuízos acumulados e necessidade urgente de liquidez.

O empréstimo de R$ 20 bilhões vinha sendo negociado desde outubro como parte central do plano de reestruturação dos Correios. A operação havia recebido aval do Conselho de Administração no último sábado e previa participação de Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra. No entanto, a taxa exigida — equivalente a 136% do CDI — superou o teto de 120% estabelecido para contratos que contam com garantias da União. Com essa diferença, o Tesouro não pôde validar a proposta, impedindo que o governo federal assumisse o risco em caso de inadimplência da estatal.

Com a Selic em torno de 15% ao ano, a taxa apresentada pelos bancos elevaria o custo efetivo do empréstimo para aproximadamente 20% anuais, enquanto o limite máximo autorizado resultaria em cerca de 18%. A avaliação da área econômica é que a condição sugerida pelas instituições financeiras não era compatível com o perfil garantidor da União e tornava a operação excessivamente onerosa para o interesse público.

O encontro que selou a reprovação reuniu representantes do Tesouro e o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, no Ministério da Fazenda. A partir dessa decisão, a estatal só poderá seguir adiante caso os bancos concordem em reduzir os juros para o patamar permitido. Outra alternativa é aguardar um possível aporte direto do Tesouro, que poderia aliviar parte do déficit acumulado — somente entre janeiro e setembro, a empresa registrou prejuízo superior a R$ 6 bilhões.

Em comunicado interno, os Correios reforçaram que seguem trabalhando com diferentes ministérios para viabilizar caminhos que assegurem liquidez imediata e sustentem o andamento das ações previstas no plano de recuperação. A direção destacou que a reestruturação em curso inclui mudanças profundas na gestão de pessoal, revisão de ativos e modernização de serviços.

O plano apresentado em novembro prevê medidas como programa de demissão voluntária, fechamento de cerca de mil agências e venda de R$ 1,5 bilhão em imóveis. O empréstimo solicitado seria utilizado para quitar dívidas com fornecedores, reorganizar o fluxo operacional da empresa e ampliar investimentos na modernização do serviço de encomendas, considerado vital para recuperar competitividade frente ao avanço do comércio eletrônico.

O impasse atual coloca a estatal diante de uma encruzilhada: renegociar condições com os bancos, buscar apoio federal adicional ou rever etapas da reestruturação. O desfecho das tratativas será determinante para definir a velocidade — e a viabilidade — da recuperação financeira dos Correios.

GED

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo