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Quase mil presos não retornam ao sistema prisional do Rio após ‘saidinhas’ em 2025

Levantamento aponta que maioria dos evadidos tem ligação com facções criminosas, especialmente o Comando Vermelho, que oferece apoio e proteção aos foragidos

Ao longo de 2025, um dado chamou a atenção das autoridades de segurança pública no Rio de Janeiro. Levantamento da Secretaria de Administração Penitenciária revelou que 992 presos beneficiados com saídas temporárias não retornaram às unidades prisionais após o período autorizado, configurando evasão do sistema. O número inclui detentos ligados a facções criminosas de atuação nacional, entre elas o Comando Vermelho.

Do total de evadidos neste ano, cerca de 65% possuem vínculos com o Comando Vermelho, o que corresponde a 635 presos. Outras facções também aparecem no levantamento, como o Terceiro Comando Puro, Amigos dos Amigos, Povo de Israel, além de presos classificados como neutros ou ligados a milícias. Informações de inteligência indicam que, em muitos casos, as organizações criminosas oferecem abrigo, segurança e até reposicionamento hierárquico aos detentos que não retornam às cadeias.

A saída temporária, conhecida como “saidinha”, é prevista em lei para presos do regime semiaberto que tenham cumprido parte da pena — um sexto para primários e um quarto para reincidentes — além de apresentarem bom comportamento. O benefício pode ser concedido para visita à família, participação em cursos ou atividades de reintegração social, com duração máxima de sete dias e limite de cinco autorizações por ano.

Em 2025, no estado do Rio de Janeiro, foram autorizadas saídas temporárias em datas como Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal. Somente no período natalino, 1.848 presos receberam autorização para deixar as unidades prisionais, com prazo para retorno até o fim da noite da última terça-feira.

Nos últimos dois anos, o tema passou por mudanças legislativas. Uma lei sancionada em 2024 passou a proibir o benefício para condenados por crimes hediondos ou praticados com violência ou grave ameaça. Já em 2025, o governador Cláudio Castro sancionou norma estadual que endurece as regras, prevendo a análise de vínculos com facções criminosas antes da concessão do benefício.

A secretária de Administração Penitenciária do estado, Maria Rosa Nebel, afirmou que o fortalecimento do crime organizado exige respostas mais firmes do poder público. Segundo ela, ações de inteligência, controle territorial e transferência de lideranças são fundamentais para romper ciclos de evasão e proteger a população.

Entre os casos emblemáticos está o de Honório de Pereira de Jesus, condenado por tráfico de drogas, roubo e formação de quadrilha, que não retornou após a saída autorizada no feriado de outubro. Outro foragido citado é Roger Pereira Moizinho, conhecido como Macarrão, apontado como liderança do Comando Vermelho em Minas Gerais, que também deixou o sistema prisional e não voltou após o benefício.

Os dados reacendem o debate sobre os critérios de concessão das saídas temporárias e o impacto da evasão no fortalecimento das organizações criminosas, tema que deve seguir em discussão no próximo ano.

GED

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