Notícia

“O jogo levou minha irmã”: o drama real por trás do vício no jogo do Tigrinho

O telefone tocou às 9h da noite. Do outro lado da linha, uma criança em desespero:
“Tia, me socorre. A mamãe morreu.”

Esse foi o grito que mudou para sempre a vida de uma mulher que, dias depois, sepultaria a irmã vítima de um vício cada vez mais presente nas telas de celular e nas manchetes policiais: o jogo do tigrinho, uma plataforma de apostas online altamente viciante.

A irmã, mãe solo de três crianças pequenas, perdeu a vida após se afundar em dívidas provocadas pela falsa promessa de ganhos fáceis. Vendeu a casa da família, tomou empréstimos em nome de parentes, somando mais de R$ 600 mil em prejuízo. O que parecia um passatempo virou uma armadilha financeira e emocional.
“Ela deixou três filhos, um deles hoje sofre problemas mentais e emocionais graves. O menor, de sete anos, chegou a ir ao túmulo com água e bolacha dizendo que a mãe estava com fome.

Do vício à tragédia

A vítima começou a jogar influenciada por promessas de “renda extra” promovidas por influenciadores digitais. Chegou a “ganhar” R$ 50 mil, valor que desapareceu misteriosamente da plataforma.
“No começo eles dão dinheiro pra te empolgar. Depois, somem com tudo. Ela começou a entender que a única saída era tirar a própria vida”, conta a irmã.

Em meio à dor, descobertas dolorosas: 54 páginas de extratos bancários, cada uma com 40 transferências, revelando a profundidade do vício.
“Quando eu entendi que o jogo era o culpado, meu julgamento acabou. Já não era mais a minha irmã, era o vício agindo.”

Da dor à luta

Transformando o luto em missão, a irmã da vítima criou um grupo de apoio. Em poucos dias, mais de 800 pessoas se uniram. Hoje, são 21 grupos com quase 10 mil participantes, todos buscando forças para sair do ciclo destrutivo das apostas.

“Cada família que ajudo, é como se eu salvasse uma nova ‘Ângela’. Não consegui salvar a minha irmã, mas posso impedir outras tragédias.”

Ela denuncia a falta de regulação e responsabilização dos influenciadores e da indústria de apostas.
“A CPI me humilhou. Vi senadores debochando das histórias. Eu esperava justiça. Recebi desprezo.”

Uma pandemia digital

A situação é alarmante. O jogo não destrói apenas finanças, mas relações familiares, saúde mental e sonhos.
“É uma pandemia digital. Eles não vendem jogo, vendem desespero disfarçado de esperança. Influenciadores mostram carros novos, viagens, dizendo que o jogo pagou. Quem está endividado acredita. E cai.”

Muitos usuários relatam crises de ansiedade, insônia, alucinações visuais com o brilho das telas e sons dos jogos.
“Eles tremem, suam, passam dias sem dormir. É vício como droga, mas tratado como passatempo.”

Um grito por regulamentação

O apelo final é direto ao poder público:
“Não dá mais pra tratar como diversão. É exploração emocional. É crime disfarçado de jogo. Enquanto a gente fecha os olhos, outras mães estão morrendo. E outras crianças estão indo levar bolacha e água pro túmulo da mãe.”


Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento emocional, procure ajuda. O CVV – Centro de Valorização da Vida – oferece apoio gratuito e sigiloso pelo telefone 188, 24 horas por dia.


Entrevista: @históriasdeterapia

GED

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo