Nikolas, IA e o INSS: quando um vídeo vira megafone político em tempos de viralização

Da Redação
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Um vídeo, um rosto envelhecido e um discurso inflamado. Esses três elementos foram suficientes para que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) colocasse novamente seu nome entre os assuntos mais comentados do país — e, desta vez, com uma denúncia que ele próprio classificou como “o maior roubo da história”: um suposto esquema de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Publicado no último dia 6 de maio, o vídeo mostra o deputado em versão digitalmente envelhecida, usando recursos de inteligência artificial para projetar a si mesmo como um idoso. A performance tem um propósito claro: dramatizar o impacto das fraudes na vida dos futuros aposentados brasileiros. A narrativa se desenrola entre críticas ao governo federal, pedido de instalação de uma CPI e apelos diretos à população para pressionar o Congresso.

O resultado? Mais de 100 milhões de visualizações em menos de 24 horas — somando as redes X (ex-Twitter), Instagram e YouTube. Uma marca que ultrapassa produções de grandes emissoras e rivaliza com lançamentos de blockbusters.
O que há por trás do sucesso?
A resposta para o sucesso estrondoso do vídeo talvez esteja menos no conteúdo jurídico da denúncia e mais na forma como ela foi empacotada: estética digital, dramatização emocional e um inimigo político claro.
Nikolas Ferreira já provou ser um fenômeno de engajamento. Jovem, carismático e hábil em explorar polêmicas, ele compreende como poucos a linguagem das redes: cortes rápidos, frases de efeito, estética de “storytelling” e forte apelo visual.
O uso da IA não foi apenas um recurso técnico — foi um golpe de mestre narrativo. Ao envelhecer digitalmente a própria imagem, Nikolas colocou-se no lugar de quem mais teme pela falência da previdência: o aposentado comum, que depende do INSS para viver.
Essa estratégia audiovisual — que mistura política, tecnologia e emoção — dialoga diretamente com a lógica dos algoritmos das redes sociais. É o tipo de conteúdo que viraliza não só pelo impacto, mas também pela capacidade de gerar discussão e compartilhamento. E, claro, pelo senso de urgência.
O sucesso do vídeo, no entanto, também acendeu alertas.
O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, classificou o conteúdo como “lacração digital” e acusou Nikolas de distorcer os fatos para atacar o governo. Já o Partido dos Trabalhadores (PT) distribuiu uma cartilha interna com orientações aos seus deputados para rebater a narrativa proposta por Ferreira.
Enquanto isso, o deputado insiste que seguirá cobrando investigação e transparência, reforçando a pressão para que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) seja instalada.