‘Me dê 50% da Câmara e mudo o Brasil’, diz Bolsonaro em Goiás durante homenagem

Em discurso na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, na noite desta quinta-feira (19), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar que é vítima de uma “perseguição sem fim” e que forças ocultas estariam atuando para favorecer o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ocasião, Bolsonaro recebeu o título de cidadão aparecidense e foi ovacionado por apoiadores e lideranças locais.
Durante a cerimônia, Bolsonaro apontou sua prioridade política nos próximos anos: ampliar a base aliada no Congresso Nacional para retomar o poder em 2026. “Me dê 50% da Câmara, 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil”, declarou o ex-presidente, sob aplausos dos presentes. A fala sintetiza a principal estratégia do ex-mandatário para voltar ao cenário político de forma mais incisiva e influente, mesmo estando atualmente inelegível.
Prioridade é o Congresso
Sem mencionar nomes ou discutir eleições estaduais, Bolsonaro evitou comentar diretamente sobre possíveis candidaturas ao Governo de Goiás, como a do senador Wilder Morais (PL), que é tratado nos bastidores como pré-candidato ao Palácio das Esmeraldas. O foco do discurso esteve na necessidade de reequilibrar o poder no Legislativo.
Como referência, Bolsonaro citou o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que, segundo ele, só conseguiu fazer reformas significativas após garantir ampla maioria no Parlamento. “Deram mais de 70% e ele mudou El Salvador”, disse.
Críticas à esquerda e à regulação das redes
Bolsonaro não poupou críticas ao atual governo e à proposta de regulação das redes sociais, pauta que vem sendo debatida no Congresso. “Eles vão dizer o que você pode ou não pode falar. Mais fake news do que a grande imprensa já faz é impossível”, afirmou.
A crítica remete ao projeto de lei que busca combater a desinformação online e que, segundo o ex-presidente, representa uma tentativa de censura e controle da liberdade de expressão. Em tom crítico, ele também voltou a se colocar como defensor dos valores conservadores. “Voltamos a admirar a nossa bandeira, a cantar o hino, a falar em Deus, em família e na inocência da criança na sala de aula”, destacou.
Condição de saúde e promessa de seguir ativo
Durante o evento, Bolsonaro apareceu visivelmente debilitado e revelou estar enfrentando sérios problemas de saúde. “Vomito 10 vezes por dia”, afirmou, pedindo desculpas ao público pela condição física. A declaração causou comoção entre os apoiadores que acompanhavam a cerimônia.
Apesar disso, garantiu que continuará atuando politicamente. “A pior coisa que pode acontecer é jogar a toalha. É falar que ninguém vai resolver nada. Passamos décadas de joelhos, aceitando a esquerda ocupar espaços”, declarou.
Tensão com a Justiça e acenos à base
As falas de Bolsonaro acontecem num momento de forte tensão jurídica. O ex-presidente é alvo de diversas investigações, incluindo o caso da chamada “Abin paralela”, no qual a Polícia Federal aponta Bolsonaro como o principal destinatário das ações ilegais de espionagem conduzidas por aliados em seu governo.
Mesmo assim, Bolsonaro continua investindo em seu capital político junto ao eleitorado mais fiel, especialmente em regiões como o Centro-Oeste. Essa foi sua primeira visita a Goiânia desde as eleições de 2024, marcando o retorno a um dos estados onde ainda mantém apoio expressivo.
A sessão solene também serviu como espaço de mobilização para as lideranças locais do PL. Em clima de pré-campanha, o partido busca consolidar sua força na região, mirando não só o Congresso, como também governos estaduais e municipais.
Retórica messiânica e apelo religioso
Em diversos momentos do discurso, Bolsonaro voltou a recorrer a uma retórica messiânica, bastante familiar a seus eleitores mais engajados. Disse acreditar que sua eleição em 2018 foi guiada por forças divinas. “Ninguém acredita, eu acredito que foi a mão de Deus que decidiu tudo, não só na minha vida, mas também no mandato.”
A fala reafirma um dos principais pilares de sua narrativa: a conexão com o divino, a defesa de princípios religiosos e a oposição frontal à chamada “agenda progressista”. Elementos que ajudam a manter sua base mobilizada, mesmo diante das incertezas jurídicas e políticas que enfrenta.
Presença em Goiás e articulação com aliados
A visita a Goiás também teve caráter estratégico. Bolsonaro optou por não comparecer à Marcha para Jesus, em São Paulo, e priorizou o encontro com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), com quem mantém diálogo político frequente, apesar de diferenças públicas em momentos anteriores.
A homenagem na Câmara Municipal reforça a tentativa de Bolsonaro de seguir relevante mesmo fora do Palácio do Planalto, mantendo presença ativa em eventos regionais e se aproximando de líderes locais.