‘Greve geral do transporte coletivo é anunciada para sexta-feira na Grande Goiânia’

Uma paralisação geral dos trabalhadores do transporte coletivo está marcada para começar à 0h da próxima sexta-feira, 27 de junho, em toda a região metropolitana de Goiânia. A decisão foi aprovada em assembleia do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana (Sindcoletivo), realizada no domingo (22), após a rejeição da proposta de reajuste salarial de 5,36% feita pelo setor patronal.
Segundo o Sindcoletivo, o percentual oferecido representa, na prática, apenas 0,5% de ganho real para os trabalhadores, o que foi considerado insuficiente diante das reivindicações apresentadas nas negociações. A greve deverá afetar diretamente os serviços em todas as cidades que compõem a Região Metropolitana de Goiânia, incluindo Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo, Goianira, entre outras.
A proposta de reajuste, apresentada pelo Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (SET), não contempla, segundo a entidade sindical, as demandas por valorização salarial, melhores condições de trabalho e melhorias nos benefícios como o auxílio-alimentação.
No comunicado oficial enviado ao presidente do SET, Adriano Rodrigues de Oliveira, o Sindcoletivo foi enfático ao atribuir a decisão à “persistência na negativa das empresas em efetivamente firmar uma proposta econômica de valorização”.
Apesar do anúncio de greve, o sindicato dos trabalhadores afirma estar aberto a retomar o diálogo com os empregadores. “Estamos dispostos a continuar as negociações, desde que a nova proposta respeite os interesses e as necessidades da categoria”, afirmou a direção do Sindcoletivo em nota.
Empresas dizem ter proposto ganho acima da inflação
O SET, por sua vez, informou que tomou conhecimento do indicativo de greve por meio da imprensa e defendeu que sua proposta já contempla ganhos reais para os trabalhadores. Em nota, a entidade patronal afirmou manter o interesse em negociar, mas alertou para os impactos negativos de uma paralisação total do transporte público para a população usuária.
“Acreditamos que a paralisação não é o melhor caminho, pois ela prejudica diretamente o usuário do transporte coletivo”, destacou o SET. A entidade reforçou que, mesmo diante de desafios econômicos e altos investimentos em infraestrutura, como a renovação da frota e reformas em terminais e estações, propôs um reajuste superior à inflação.
O sindicato patronal também lembrou que, nos últimos dois anos, as empresas já concederam aumentos com ganhos reais à categoria.
Mediação está prevista no TRT
Para tentar impedir a paralisação, uma audiência de mediação entre trabalhadores e empresários está prevista para ocorrer ainda nesta semana no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). A expectativa é de que a mediação possa resultar em um entendimento que evite o impacto direto no transporte público de Goiânia e região.
O SET diz esperar que o tribunal leve em consideração os esforços feitos pelas empresas para manter a qualidade do serviço e a política de reajustes. Já o Sindcoletivo cobra mais sensibilidade por parte dos empregadores, argumentando que o crescimento do custo de vida e a carga de trabalho justificam uma proposta mais robusta.
A greve afeta motoristas, cobradores e demais profissionais ligados ao setor de transporte coletivo urbano. Com isso, caso não haja acordo até sexta-feira, a mobilidade urbana da região poderá ser severamente comprometida, principalmente nos horários de pico.
Reivindicações dos trabalhadores
Além do reajuste salarial, a categoria também exige a ampliação e melhoria dos benefícios de alimentação, como o vale-refeição, além de melhorias nas condições de trabalho, segurança e infraestrutura dos locais de apoio aos trabalhadores, como garagens e terminais.
“Não se trata apenas de salário. A categoria quer respeito e condições dignas para exercer suas funções. A proposta atual ignora pontos fundamentais discutidos há meses”, pontuou um representante do Sindcoletivo durante a assembleia de domingo.
Impacto para os usuários
Caso a greve seja mantida, cerca de 700 mil usuários do transporte público da região podem ser afetados, especialmente aqueles que dependem exclusivamente dos ônibus para se deslocar diariamente ao trabalho, escola ou serviços básicos. As cidades da região metropolitana devem sentir o impacto já nas primeiras horas da sexta-feira.
A Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC), responsável pela gestão do sistema na Grande Goiânia, ainda não se manifestou sobre eventuais planos de contingência para minimizar os efeitos da paralisação.
Expectativa pelo diálogo
Ambos os sindicatos dizem manter a disposição para o diálogo, o que pode abrir espaço para um acordo de última hora, desde que as condições propostas sejam reformuladas. A audiência no TRT será crucial para definir os próximos passos e poderá contar com a mediação de um desembargador responsável pelas relações trabalhistas na região.
Especialistas em relações do trabalho consideram que greves no setor de transporte têm grande poder de pressão, mas também exigem responsabilidade redobrada por afetarem diretamente a população. “Quando os canais de negociação se esgotam, a greve se torna o último recurso. Mas o ideal é sempre evitar esse cenário”, aponta o professor de direito do trabalho da UFG, Paulo Henrique Castro.
Até o momento, não há previsão de serviços mínimos garantidos em caso de paralisação total. A legislação trabalhista exige que categorias essenciais, como a do transporte coletivo, mantenham ao menos parte da operação durante greves, o que deve ser analisado judicialmente caso a greve seja deflagrada.