França: Moção de Desconfiança Pode Derrubar Governo Barnier e Agravar Crise Política
Parlamentares franceses votarão nesta quarta-feira (4) uma moção de desconfiança que deverá derrubar a frágil coalizão liderada por Michel Barnier, intensificando ainda mais a crise política na segunda maior economia da zona do euro.
Caso a moção seja aprovada, este será o primeiro governo francês a ser forçado a renunciar por uma votação de desconfiança em mais de seis décadas, em um momento crítico, quando o país enfrenta dificuldades para controlar um gigantesco déficit orçamentário.
O debate está agendado para começar às 16h (12h em Brasília), com a votação prevista para ocorrer cerca de três horas depois, de acordo com autoridades parlamentares. O presidente Emmanuel Macron, que se encontra em visita de Estado à Arábia Saudita, deve retornar à França no mesmo dia.
O colapso do governo de Barnier representaria uma grave instabilidade para a Europa, com a Alemanha também em período eleitoral e a eleição de Donald Trump para a Casa Branca prestes a ocorrer nas semanas seguintes.
Após semanas de crescente tensão, a crise política atingiu seu auge quando Barnier, que ocupa o cargo de primeiro-ministro há apenas três meses, anunciou que tentaria aprovar no Parlamento a parte do orçamento relacionada à seguridade social sem a necessidade de votação formal, após não conseguir o apoio do partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen.
Tanto a comitiva de Barnier quanto o grupo de Le Pen, que até então sustentava a coalizão minoritária, se culparam mutuamente pela crise. Ambos afirmaram ter se esforçado ao máximo para chegar a um acordo a fim de reduzir os gastos com benefícios e que estavam dispostos ao diálogo.
“Censurar o orçamento é, para nós, a única forma que a Constituição nos oferece para proteger os franceses”, declarou Le Pen aos jornalistas ao chegar ao Parlamento nesta terça-feira.
Com os votos da esquerda e da extrema-direita combinados, Barnier enfrenta uma derrota iminente. Le Pen já confirmou que seu partido apoiará a moção de desconfiança proposta por uma aliança de esquerda, embora uma moção do próprio RN não tenha apoio suficiente entre os parlamentares.
O ministro das Finanças, Antoine Armand, alertou à TV France 2 que os políticos têm a responsabilidade de evitar “mergulhar o país na incerteza”.
Se a moção de desconfiança for aprovada, Barnier será obrigado a renunciar, embora Macron tenha a opção de mantê-lo como primeiro-ministro interino enquanto busca um novo nome para o cargo, o que pode demorar até o próximo ano.
Caso o Parlamento não aprove o orçamento até o dia 20 de dezembro, o governo interino poderá recorrer a uma legislação emergencial para ajustar os limites de gastos e as disposições fiscais deste ano. Contudo, isso significaria que as medidas de austeridade planejadas por Barnier seriam, na prática, abandonadas.