Entenda por que o termo “pau de arara” usado por Bolsonaro ofende o povo nordestino
O presidente Jair Bolsonaro coleciona outros episódios com falas pejorativas ao Nordeste brasileiro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a usar termos pejorativos para se referir ao povo nordestino em sua live, desta quinta-feira (03/02), nas redes sociais. Após perguntar aos assessores de qual estado ou cidade era o Padre Cícero e impaciente com a demora de respostas, o chefe do executivo afirmou estar rodeado de “paus de arara” que não sabem lhe passar a informação solicitada.
Reverenciado pelo povo nordestino, Padre Cícero, é uma figura muito importante para a história de Juazeiro do Norte, no Ceará. O sacerdote nasceu em Crato, mas se destaca por ter sido e primeiro prefeito e por ter emancipado Juazeiro. O comentário de Bolsonaro se originou de após negar que havia revogado o decreto de luto oficial do município pela morte de Cícero Romão Batista.
A professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Siane Góis, em entrevista ao portal UOL, explica a origem do termo “pau de arara”. “A origem primária diz respeito ao transporte de araras e papagaios em condições ruins para o comércio: elas iam em cima de um pau. E o termo migra para denominar o transporte coletivo precário dentro do Nordeste”, explica.
Segundo ela, o termo “migrou” desse contexto e ganhou uma nova conotação, pois passou a se referir aos nordestinos que viajavam ao Sudeste brasileiro em carrocerias de caminhões com estrutura improvisada a fim de buscarem melhores condições de vida. O vocábulo se popularizou na música “Último pau de arara”, de Luiz Gonzaga, mas se refere ao transporte e não às pessoas.
Além disso, ela destaca que preconceitos linguísticos, como este, tem uma origem social, em que determinadas regiões do país recebem menos recursos públicos, os excluem e, ainda, reforça um estereótipo que associa o Nordeste à pobreza. Além desse episódio, o presidente Jair Bolsonaro coleciona outros em que usa termos pejorativos e preconceituosos para se referir aos nordestinos.
Em julho de 2019, usou o termo o termo ‘paraíba’ para se referir a governadores nordestinos: “Dentre os [ou aqueles] governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, disse. Em agosto do mesmo ano, afirmou: “só está faltando crescer um pouquinho a cabeça para ser nordestino” ao deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA).