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Endividada com apostas no ‘Jogo do Tigrinho’, jovem tenta matar a filha com 15 facadas em Goiás

Mulher de 23 anos alegou à polícia que sofria ameaças de agiotas e não queria que a filha crescesse longe dela; criança sobreviveu e está com parentes

Uma jovem de 23 anos foi presa após tentar matar a própria filha, de apenas 2 anos e 7 meses, com 15 facadas, no bairro Mansões Bittencourt, em Santo Antônio do Descoberto (GO), região do Entorno do Distrito Federal. O crime aconteceu na última semana e teria sido motivado por dívidas adquiridas com apostas no chamado “Jogo do Tigrinho”, que levaram a mulher a sofrer ameaças de agiotas.

Segundo informações da Polícia Civil de Goiás (PCGO), a criança foi socorrida a tempo e encaminhada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), no Distrito Federal. Apesar da gravidade da agressão, a menina sobreviveu. Das 15 facadas desferidas pela mãe, apenas uma causou ferimento profundo. Após ser atendida, recebeu alta médica no último sábado (24) e está sob os cuidados de familiares.

A autora do crime também tentou tirar a própria vida logo após ferir a filha. Ela foi encontrada com ferimentos, recebeu atendimento médico e, posteriormente, foi levada pela Polícia Militar à Delegacia de Águas Lindas, onde teve a prisão preventiva decretada após audiência de custódia. O caso segue em investigação pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam).

Motivação ligada ao vício em jogo e ameaças de agiotas

Durante depoimento à polícia, a jovem relatou que apostava frequentemente no “Jogo do Tigrinho”, uma plataforma de jogos de azar muito popular em redes sociais e aplicativos. Com o acúmulo de perdas, ela recorreu a empréstimos com agiotas e passou a receber ameaças.

“Ela relatou que preferiu matar a criança e depois tirar a própria vida, pois acreditava que a filha sofreria muito longe dela”, explicou a delegada Nathália Luz, titular da Deam.

A mulher também deixou uma carta de despedida, encontrada pelos policiais na residência da família. No texto, endereçado aos pais, ao irmão e a amigos, ela escreveu: “O tempo em que tivemos aqui, nós amamos vocês de todo o coração.”

Uma faca com vestígios de sangue foi apreendida na cena do crime.

Jogo do Tigrinho: um vício que tem gerado tragédias

A história da jovem reacende o alerta sobre o impacto dos jogos de azar online, em especial o chamado “Jogo do Tigrinho”, que tem atraído milhares de brasileiros por meio de promessas de ganhos fáceis. Plataformas como essa operam na informalidade e têm sido associadas a casos crescentes de endividamento, fraudes e até suicídios.

Especialistas alertam que o vício em jogos pode levar a comportamentos extremos, incluindo o comprometimento da saúde mental. Psicólogos e psiquiatras têm registrado aumento na procura por atendimento de pessoas que enfrentam crises emocionais graves após perder grandes quantias nessas plataformas.

“O problema se agrava pela falsa ideia de que é possível recuperar rapidamente o dinheiro perdido, o que leva muitos usuários a se endividarem ainda mais”, avalia o psicólogo clínico Daniel Paiva, especialista em saúde mental e dependências comportamentais.

Assistência à criança e medidas legais

A menina segue sob os cuidados de parentes próximos, que não tiveram a identidade revelada pela polícia. Segundo a PCGO, o Conselho Tutelar acompanha o caso, e medidas protetivas foram acionadas para garantir a segurança e o bem-estar da criança.

A mulher responderá por tentativa de homicídio qualificado e poderá enfrentar uma pena severa, caso seja condenada. A defesa dela ainda não se pronunciou oficialmente.

Um caso que escancara vulnerabilidades sociais

O episódio ocorrido em Santo Antônio do Descoberto evidencia o quanto o vício em jogos pode afetar famílias vulneráveis e destaca a urgência de políticas públicas que atuem na prevenção e tratamento de dependências digitais e comportamentais. Também acende um alerta para o papel das plataformas digitais e a ausência de regulação eficaz sobre jogos de azar online no Brasil.

Além disso, o caso levanta discussões sobre saúde mental materna, principalmente em contextos de pressão financeira, isolamento social e ausência de rede de apoio.

A Polícia Civil segue investigando o caso, ouvindo testemunhas e analisando detalhes da tentativa de homicídio. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Santo Antônio do Descoberto deve divulgar novos desdobramentos nos próximos dias.

GED

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