Avanço do projeto no Senado reacende preocupações entre lideranças cristãs sobre impactos na diversidade de traduções e práticas de fé
Com o avanço do debate legislativo no Senado, cresce o movimento de entidades ligadas a igrejas evangélicas e católicas que passaram a questionar os efeitos de um projeto de lei que pretende proibir qualquer modificação na Bíblia. A discussão tomou corpo nacional ao apontar que o texto, aprovado na Câmara dos Deputados em 2022, não define qual tradução seria considerada oficial, abrindo margem para insegurança entre estudiosos e lideranças religiosas.
A proposta, apresentada pelo deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), estabelece que nenhuma “alteração, adaptação, edição, supressão ou adição” poderá ser feita nos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento. Segundo o parlamentar, a intenção é garantir que o conteúdo bíblico “permaneça imutável”, preservando sua integridade diante do que ele define como tentativas futuras de modificação ou manipulação dos textos sagrados.
O avanço da matéria despertou resistência em setores religiosos que tradicionalmente convivem com múltiplas traduções, versões contextualizadas e notas explicativas usadas para estudos teológicos, liturgias e evangelização. Representantes dessas instituições afirmam que a pluralidade de versões nunca buscou alterar a essência da fé, mas facilitar o entendimento histórico e linguístico de um conjunto de textos escritos em diferentes épocas e idiomas.
A preocupação central, segundo líderes consultados, é que o projeto possa gerar interpretações jurídicas capazes de limitar a produção acadêmica, as revisões linguísticas periódicas e o próprio acesso das novas gerações às Escrituras em linguagem contemporânea. Também há questionamentos sobre como a regra seria aplicada no caso de traduções voltadas a comunidades indígenas, imigrantes e grupos que dependem de adaptações linguísticas específicas.
Nos bastidores, integrantes de diferentes denominações reforçam que a preservação do texto bíblico é um valor compartilhado, mas alertam para o risco de uma legislação que, ao tentar proteger a fé, acabe interferindo em tradições seculares de estudo, tradução e difusão religiosa. O tema deve seguir em discussão enquanto o Senado avalia possíveis ajustes na proposta antes de sua votação definitiva.



