CPI das Bets aponta crimes graves e pede proibição de jogos como o ‘tigrinho’

Da Redação
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado, concluiu que o setor de apostas esportivas on-line está ligado a crimes como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, estelionato, manipulação de resultados e formação de organização criminosa. O relatório final, com 541 páginas, foi apresentado no último dia 10 pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da comissão.
O documento aponta que, apenas em 2024, o setor movimentou entre R$ 89 bilhões e R$ 129 bilhões – valores próximos ao orçamento do Ministério da Educação, estimado em R$ 187,2 bilhões para 2025. “Com crescimento de 1.300% desde 2018, parece-nos que é o melhor negócio do país neste momento”, afirmou Soraya.
Entre os destaques do relatório está a denúncia de que as chamadas “bets” contribuem para o empobrecimento de famílias brasileiras, especialmente das classes C, D e E. Segundo a senadora, “muitos estão deixando de comprar alimentos, pagar contas básicas ou adquirir remédios para continuar jogando”. Um estudo citado pelo texto aponta que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas apenas neste ano.
O relatório também aborda o impacto negativo das apostas na economia. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 23% dos apostadores deixaram de comprar roupas para jogar, 19% deixaram de adquirir itens de supermercado e outros 19% cancelaram viagens.
Outro levantamento, do Instituto Locomotiva, revela que 52% dos entrevistados redirecionaram à aposta o dinheiro que seria destinado à poupança; 48% tiraram dos gastos com lazer e alimentação fora de casa; 43% deixaram de comprar roupas e acessórios; e 41% deixaram de ir ao cinema ou teatro.
A CPI também responsabiliza influenciadores digitais que promovem apostas de forma enganosa. O relatório pede o indiciamento de 16 pessoas e empresas, incluindo as influenciadoras Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.
“Diversos influenciadores fazem propaganda abusiva, sugerindo que apostas são uma forma de investimento, quando na verdade alimentam vícios e atingem até crianças e adolescentes”, alerta o texto. A senadora propõe maior restrição à publicidade e vedações específicas para o público menor de 18 anos.