Conversas íntimas com inteligência artificial já são vistas como traição por 60% dos brasileiros

Pesquisa indica que avanço da IA está redefinindo limites emocionais e provocando novos debates sobre fidelidade e vínculos afetivos
A rápida popularização da inteligência artificial começa a ultrapassar fronteiras antes consideradas exclusivamente humanas, como o afeto, a intimidade e o vínculo emocional. No Brasil, esse movimento já provoca reflexões profundas sobre os limites dos relacionamentos amorosos. Uma pesquisa recente aponta que 60% dos brasileiros consideram que manter conversas íntimas ou envolvimento emocional com uma inteligência artificial pode ser caracterizado como traição, caso a pessoa esteja em um relacionamento.
O levantamento foi divulgado pela Gleeden, plataforma internacional voltada ao comportamento afetivo, e ouviu usuários brasileiros ao longo do mês de novembro. O objetivo foi compreender de que forma a IA já influencia — ou pode vir a influenciar — a vida amorosa. Os dados mostram que, embora o tema ainda desperte estranhamento, ele já faz parte do cotidiano de uma parcela significativa da população.
Mesmo com a resistência de muitos, o estudo revela uma mudança gradual de comportamento. Cerca de 36% dos entrevistados afirmaram considerar a possibilidade de se abrir emocionalmente com uma inteligência artificial, utilizando a tecnologia como espaço de conversa, acolhimento ou desabafo. Além disso, 29% admitiram já ter recorrido a ferramentas de IA com finalidade erótica, ainda que de forma esporádica.
Os números indicam um cenário dividido. Enquanto parte dos brasileiros rejeita a ideia de qualquer vínculo afetivo com máquinas, outra parcela já explora essas tecnologias como alternativas para suprir necessidades emocionais ou sexuais. Ainda assim, o ceticismo segue predominante: 83% afirmaram acreditar que se apaixonar por uma inteligência artificial é impossível, contra 17% que admitem essa possibilidade.
Para especialistas, o uso da IA não deve ser encarado como a origem dos conflitos conjugais. A terapeuta sexual Thaís Plaza, embaixadora do Gleeden no Brasil, avalia que a tecnologia costuma apenas evidenciar fragilidades já existentes nas relações. Segundo ela, quando alguém recorre à IA para suprir carências emocionais ou íntimas, isso geralmente reflete dificuldades prévias de comunicação ou conexão no relacionamento.
Nesse contexto, o debate sobre traição envolvendo inteligência artificial vai além da tecnologia em si. Ele expõe transformações na forma como fidelidade, intimidade e confiança são compreendidas. À medida que a IA se torna mais sofisticada e presente no dia a dia, esses dilemas tendem a se intensificar, desafiando conceitos tradicionais e abrindo espaço para novas discussões sobre os limites emocionais na era digital.



