A Praça da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, amanheceu nesta quarta-feira (29/10) com dezenas de corpos enfileirados sobre lonas, levados por moradores durante a madrugada, após a Operação Contenção — a ação policial considerada a mais letal da história do estado. Relatos locais e imagens divulgadas por ativistas apontam para cerca de 50 corpos retirados da área de mata da comunidade e reunidos na praça. Ainda não está claro se esses cadáveres já foram incluídos no balanço oficial do governo, que até a noite de ontem registrava 64 mortos (60 suspeitos e 4 policiais, sendo dois civis e dois do Bope).

O que se sabe até agora
- Local e contexto: a concentração de corpos ocorreu na Praça São Lucas, no Complexo da Penha. Moradores afirmam que os cadáveres foram trazidos da mata por familiares e vizinhos, durante a madrugada, “para que fossem identificados e recolhidos”. A Polícia Militar foi procurada pela imprensa pública federal, sem retorno até a última atualização.
- Saldo oficial (até ontem à noite): 64 mortos, sendo 4 policiais e 60 suspeitos, 81 presos e 93 fuzis apreendidos — além de helicópteros, 32 blindados, 12 veículos de demolição e o uso intensivo de drones por parte das forças de segurança. O Estado afirma que a operação é fruto de mais de um ano de investigação.
- Dimensão da ação: participaram cerca de 2,5 mil agentes das Polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, com objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e conter a expansão territorial do Comando Vermelho (CV). Os dois complexos reúnem 26 comunidades.

“Zona de guerra”: tiros, barricadas e uso de tecnologia
Ao longo de terça-feira (28/10), a cidade viveu um dia de caos: escolas e unidades de saúde suspenderam atividades; linhas de ônibus foram desviadas. Imagens oficiais e de imprensa mostram fuga em fila indiana pela mata, barricadas em chamas e trocas intensas de tiros. Houve também o uso de drones por criminosos arremessando artefatos explosivos contra tropas, enquanto a polícia empregou drones, helicópteros e blindados em larga escala.

Entre os 81 presos, a polícia anunciou a captura de Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, apontado como operador financeiro do CV na Penha e braço direito de uma das lideranças da facção, conhecido como “Doca” ou “Urso”. O volume de 93 fuzis apreendidos supera os totais mensais de quase todos os meses do ano e se aproxima do recorde histórico do estado.
Contagem paralela de mortos e pressão por esclarecimentos

A retirada de dezenas de corpos por moradores suscita dúvidas sobre a subnotificação do número de mortes na ação. Reportagem da Agência Brasil informa que os cerca de 50 corpos levados à praça “não fariam parte” do saldo oficial divulgado até ontem. Organizações e lideranças comunitárias cobram transparência na identificação das vítimas e investigação independente sobre as circunstâncias das mortes.
Policiais mortos: homenagens e identificação
Foram confirmadas as mortes dos policiais civis Marcus Vinícius e Rodrigo Cabral, homenageados por colegas e familiares. Os outros dois agentes mortos são do Bope. As cerimônias de despedida e os procedimentos periciais seguem em curso.
Como foi montada a Operação Contenção
A ofensiva, coordenada pelas cúpulas das polícias Civil e Militar, foi planejada ao longo de mais de um ano em inquéritos conduzidos pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e setores de inteligência. A diretriz oficial sustenta que os alvos eram lideranças do CV — inclusive oriundas de outros estados — que teriam se refugiado no Alemão e na Penha. Drones, monitoramento aéreo e mapeamento de rotas na mata compuseram a estratégia.

Impactos urbanos: aulas suspensas, saúde afetada, transporte alterado
A prefeitura e o governo do estado reportaram estatuto de contingência na rede pública: aulas suspensas, postos de saúde fechados temporariamente e linhas de ônibus com itinerários encurtados ou bloqueados em vários trechos da Zona Norte. O Centro de Operações registrou nível elevado de risco ao longo do dia.
O que falta responder
- Corpos levados à praça: estão ou não incorporados ao saldo oficial? As autoridades ainda não confirmaram.
- Identificação e perícia: quando estará disponível a lista nominal de mortos com laudos periciais (trajetória dos disparos, distância, possível execução)? Organizações de direitos humanos e a Defensoria tendem a formalizar pedidos de acesso.
- Responsabilização: como serão apuradas eventuais irregularidades (ex.: mortes fora de confronto, ocultação de cadáver, impedimento de socorro)? A expectativa é por apuração interna e Ministério Público. (Em atualização.)
Próximos passos oficiais
O governo estadual e as polícias devem atualizar o balanço com identificação das vítimas, apreensões e localização de foragidos. Diante da repercussão, o caso já ganha dimensão internacional, ampliando a pressão por transparência e controle externo da atividade policial.
Por Ana Lucia
[email protected] – Diário Goiás em Destaque
Publicado em 29/10/2025 – Atualizado às 09h10
Esta matéria será atualizada ao longo do dia conforme novas informações oficiais sobre identificação das vítimas e consolidação do balanço da Operação Contenção.



