Anvisa proíbe três marcas de café por contaminação com toxinas e resíduos de lavoura

Produtos falsificados vendiam impurezas como se fossem café e apresentavam rotulagem enganosa; consumidores devem verificar certificações
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o recolhimento imediato de três marcas de café comercializadas em território nacional após testes laboratoriais identificarem a presença de substâncias tóxicas e resíduos impróprios ao consumo humano. A decisão atinge os produtos das marcas Melissa (do Paraná), Pingo Preto (de Santa Catarina) e Oficial (de São Paulo), que agora estão proibidos de serem fabricados, distribuídos, vendidos ou até mesmo anunciados em todo o país.
Segundo a Anvisa, os lotes dessas marcas apresentaram contaminação por ocratoxina A — uma toxina produzida por fungos que pode causar sérios danos aos rins, como inflamações e doenças crônicas. Além disso, os produtos continham impurezas como cascas, paus, palhas e outros resíduos considerados lixo agrícola. A descoberta acende um alerta para o que tem sido chamado de “café fake”, uma fraude que engana o consumidor e coloca a saúde pública em risco.
Testes confirmaram presença de toxinas perigosas
Os resultados das análises conduzidas em laboratório foram categóricos: a ocratoxina A estava presente em todos os lotes analisados dos cafés interditados. A substância é reconhecida internacionalmente como potencialmente nefrotóxica e, em níveis elevados e de exposição contínua, pode comprometer seriamente o funcionamento dos rins.
Em nota, a Anvisa reforçou que esses produtos não devem ser consumidos sob nenhuma hipótese e que os estabelecimentos devem retirá-los imediatamente das prateleiras.
Fraudes já haviam sido detectadas pelo Ministério da Agricultura
Antes mesmo da decisão da Anvisa, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) já havia desclassificado as três marcas no mês de maio, após constatar fraudes na composição dos produtos. Análises revelaram que os “cafés” comercializados por essas empresas não eram feitos integralmente de grãos torrados, como exige a legislação brasileira, mas misturados com resíduos e elementos não autorizados.
Além da composição irregular, os rótulos também traziam informações enganosas, como a classificação do produto e selos gráficos que induziam o consumidor ao erro. Tudo isso infringindo as normas brasileiras que regulamentam a comercialização de bebidas à base de café.
Abic alerta para o avanço do ‘café fake’ no mercado nacional
Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), comentou à Agência Brasil que o “café fake” se tornou uma preocupação crescente. Segundo ele, o produto falso é composto basicamente por “resíduos sem qualidade”.
“Café é feito do grão”, destacou. “Fora isso, é impureza e resíduo.”
Inácio também advertiu para o apelo visual desses produtos, muitas vezes embalados com design semelhante aos de marcas tradicionais, o que contribui para confundir o consumidor e dificultar a identificação de produtos fraudulentos.
Risco é maior em marcas pouco conhecidas e muito baratas
O Mapa orienta os consumidores a suspenderem imediatamente o uso dos produtos interditados e recomenda atenção redobrada ao adquirir cafés de marcas pouco conhecidas ou com preços muito abaixo da média do mercado. A combinação entre baixo custo e embalagens atrativas tem sido um dos principais artifícios utilizados pelas empresas para burlar a confiança do consumidor.
A situação é mais grave do que parece: apenas nos últimos 12 meses, 35 marcas nacionais de café foram consideradas impróprias para consumo por apresentarem excesso de impurezas.
Como garantir a qualidade do café que você consome
Para evitar a ingestão de produtos contaminados ou adulterados, especialistas recomendam a compra de cafés que possuam selos de certificação reconhecidos, como os emitidos pela própria Abic, que atestam a qualidade e a procedência do grão utilizado.
“O selo é a garantia de que aquele produto passou por análise de qualidade e atende aos padrões exigidos por lei”, explicou Celírio Inácio.
Outra dica importante é verificar as informações obrigatórias nos rótulos, como a classificação do café (tradicional, superior ou gourmet), a data de validade e a origem do produto.
Fiscalização mais rigorosa e novas ações previstas
Com a decisão da Anvisa, órgãos de vigilância sanitária e de defesa do consumidor deverão intensificar a fiscalização em supermercados, armazéns e pontos de venda em todo o país. A medida visa impedir que os produtos banidos ainda circulem de forma clandestina no comércio.
A Abic também estuda novas estratégias de conscientização para educar a população sobre como identificar um café de qualidade e denunciar possíveis irregularidades. Além disso, novas análises laboratoriais estão sendo conduzidas em marcas suspeitas.
A atuação integrada entre Anvisa, Mapa e entidades do setor cafeeiro deverá ser ampliada nos próximos meses para endurecer o combate às fraudes e proteger o consumidor.
Consequências para as empresas envolvidas
As empresas responsáveis pelas marcas interditadas poderão responder judicialmente por colocar em risco a saúde pública, além de estarem sujeitas a multas e sanções administrativas. A fabricação e comercialização de alimentos falsificados ou adulterados é crime previsto no Código Penal Brasileiro.
As marcas Melissa, Pingo Preto e Oficial ainda não se manifestaram oficialmente sobre a proibição e a retirada dos produtos.