Ambulantes da Rua 44 enfrentam a Prefeitura de Goiânia em defesa do direito ao trabalho

Comerciantes pressionam vereadores nesta terça-feira e pedem que o prefeito Sandro Mabel reveja a política de “tolerância zero” que ameaça tirar o sustento de centenas de famílias
Nesta terça-feira (8), a Câmara Municipal de Goiânia será palco de mais um capítulo da mobilização dos trabalhadores informais da tradicional Rua 44. Organizados em comissão, os ambulantes irão se reunir com vereadores na tentativa de reverter a política de “tolerância zero” adotada pelo prefeito Sandro Mabel (União Brasil), que prevê a retirada definitiva de vendedores informais até o fim deste mês.
O movimento ganhou força nas últimas semanas, com protestos que chegaram a reunir mais de 600 trabalhadores. Com faixas, carro de som e cartazes, os ambulantes denunciam a falta de diálogo com a Prefeitura e pedem alternativas concretas para continuarem trabalhando de forma organizada e legalizada.

Queremos apenas trabalhar, não estamos pedindo favor”, afirma André Cavalcante, um dos representantes do grupo.
Segundo ele, a proposta dos ambulantes inclui a liberação de licenças para horários alternativos, como o período da madrugada, de forma a não interferir no funcionamento do comércio formal da região.
A comissão afirma já ter o apoio de ao menos 12 vereadores, entre eles Fabrício Rosa (PT), que tem acompanhado de perto as manifestações.

A cidade precisa encontrar soluções que respeitem a dignidade do trabalhador. Não é possível que a resposta a quem quer trabalhar seja a repressão”, disse o parlamentar.
Histórias que revelam a urgência
A pressão política é acompanhada de histórias pessoais que escancaram a urgência do problema. Keila dos Santos, camelô há cinco anos, conta que sustenta sozinha os dois filhos com a renda da banca de roupas que mantém na calçada. “Já tentei de tudo. Quando perdi o emprego na pandemia, a rua foi minha salvação. Agora querem tirar isso de mim também”, desabafa.
Outros ambulantes relatam abordagens hostis e apreensões de mercadorias por parte da fiscalização municipal. Fabrício Pereira, que vendia acessórios na 44, hoje vive de catar latinhas. “Não tenho vergonha de lutar. Vergonha é ser ignorado por quem deveria governar para todos”, afirma.
Alternativas em pauta
Entre as propostas levadas à Câmara, está a criação de feiras em horários alternativos, como acontece em São Paulo com a conhecida “Feira da Madrugada”. A ideia é permitir que os trabalhadores atuem sem competir com os lojistas da região, garantindo ordem urbana e oportunidade de renda.
A Rua 44 é um dos polos mais movimentados de comércio popular da capital goiana, atraindo compradores de todo o país. O local, no entanto, há anos é cenário de conflitos entre vendedores informais e lojistas estabelecidos. Desde 2023, as ações da Prefeitura se intensificaram, com operações frequentes de retirada de camelôs das calçadas.
Prefeitura mantém silêncio
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Goiânia não respondeu até o fechamento desta edição. Até o momento, a gestão municipal mantém a posição de endurecimento contra o comércio informal, alegando necessidade de reorganização urbana e cumprimento da legislação vigente.
Enquanto isso, os ambulantes prometem manter as mobilizações. “Não vamos recuar. O que está em jogo é a sobrevivência de centenas de famílias”, resume André Cavalcante.
Serviço
Reunião dos Ambulantes com Vereadores
📅 Terça-feira, 8 de abril
🕗 A partir das 8h
📍 Câmara Municipal de Goiânia
