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Trump anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e cita julgamento de Bolsonaro

Nova taxa entra em vigor em 1º de agosto e surpreende governo brasileiro, que esperava tarifa menor

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou neste dia 9 uma carta pública ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciando a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, com vigência a partir de 1º de agosto. A medida surpreendeu o governo brasileiro, que não esperava o aumento e negociava uma tarifa de 10% voltada aos países do Brics.

Na carta, Trump justificou a elevação da tarifa citando o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), classificando o processo como ‘uma vergonha internacional’. O republicano também acusou, sem apresentar provas, o STF de emitir ordens de censura a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas e expulsão do mercado brasileiro.

Segundo o documento, a tarifa de 50% será aplicada sobre “todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Produtos como aço e alumínio, que já enfrentam tarifas elevadas, serão ainda mais impactados, afetando diretamente a indústria siderúrgica nacional.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que não havia qualquer indicação de que o Brasil seria alvo de uma tarifa tão alta. “As conversas com os EUA estavam concentradas na proposta de uma tarifa de 10% para o Brics”, informou a pasta.

Trump alegou que a relação comercial entre os países é “injusta” e que as tarifas são necessárias para corrigir “déficits comerciais insustentáveis” dos EUA com o Brasil. No entanto, dados oficiais mostram que o Brasil acumula déficits comerciais com os EUA desde 2009, tendo importado mais do que exportado ao longo dos últimos 16 anos. Nesse período, as vendas americanas ao Brasil superaram as exportações brasileiras em mais de US$ 90 bilhões.

Além da tarifa, Trump anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, sob a chamada Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, alegando práticas desleais e ataques às atividades digitais de empresas americanas. O procedimento pode resultar em novas sanções ou restrições ao comércio brasileiro.

A carta de Trump faz parte de uma ofensiva mais ampla, com o envio de notificações a outros países sobre tarifas que variam de 25% a 50%. Entre os notificados estão Argélia, Brunei, Filipinas, Iraque, Líbia, Moldávia e Sri Lanka.

Veja a carta na íntegra:

9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília

Prezado Sr. Presidente:

Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!

Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.

Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.

Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.

Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!

Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.

Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.

Muito obrigado por sua atenção a este assunto!

Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O republicano também ameaçou aplicar uma tarifa de 10% a todos os países do Brics, bloco que inclui Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia e Irã. Segundo Trump, o grupo estaria tentando substituir o dólar como moeda padrão global, o que classificou como ameaça à economia americana.

Em resposta, o presidente Lula afirmou que os países do Brics são soberanos e defendeu o multilateralismo. “Não aceitamos intromissão de quem quer que seja”, declarou.

GED

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