“Para a vala”: fala de Jerônimo Rodrigues causa crise política e racha entre aliados na Bahia

Da Redação
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A declaração do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), sugerindo que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveriam ir “para a vala”, provocou uma onda de repercussões que ultrapassou a oposição e atingiu diretamente a base aliada do governo.
A fala ocorreu na última sexta-feira (3), durante a inauguração de uma escola no município de América Dourada. Em tom inflamado, Jerônimo criticou duramente o legado de Bolsonaro durante a pandemia e afirmou:
— “Tivemos um presidente que sorria das pessoas que estavam morrendo. Ele vai pagar por isso. Quem votou nele podia pagar também. Bota uma enchedeira… sabe o que é? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para a vala!”
O vídeo com o discurso se espalhou rapidamente e gerou reações imediatas de parlamentares bolsonaristas, que prometeram ações judiciais contra o petista. Deputados do PL e do MDB acionaram o STF e a PGR, acusando o governador de abuso de autoridade e incitação à violência.
Nos bastidores, a fala provocou mal-estar até entre aliados próximos de Jerônimo, especialmente em partidos que compõem a base do governo estadual, como PSD, MDB, PSB e até mesmo o próprio PT. Integrantes dessas siglas avaliam que o governador “passou dos limites” ao adotar um discurso agressivo, considerado incompatível com a liturgia do cargo.
O episódio também ocorre num momento delicado, quando Jerônimo busca ampliar sua base aliada com partidos de centro-direita, como PP e PRD. A crise abriu brecha para pressões por mais cargos e influência no governo, aproveitando o desgaste momentâneo do Palácio de Ondina.
A situação expôs ainda as crescentes tensões com o PSD, partido com duas cadeiras no Senado e que se sente preterido diante das articulações do PT para formar uma “chapa pura” em 2026, com os nomes de Rui Costa e Jaques Wagner.
A proposta de ceder a vaga de vice-governador ao PSD, hoje ocupada por Geraldo Júnior (MDB), não agradou aos líderes da sigla. Em resposta, o senador Ângelo Coronel fez críticas públicas e chegou a comparar a estratégia petista ao nazismo, gerando nova controvérsia. Dias depois, recuou, dizendo ter sido mal interpretado. Sobre a fala de Jerônimo, preferiu o silêncio.
Enquanto o governador tentava conter a repercussão — pedindo desculpas na segunda-feira, ao dizer que o termo foi usado de forma infeliz —, a oposição começou a se movimentar. Aliados de ACM Neto (União Brasil) já se organizam para usar o episódio como trunfo eleitoral em 2026.
Além disso, o ex-prefeito de Salvador tenta se reaproximar de partidos da base de Jerônimo que se sentem escanteados, como parte de uma estratégia de enfraquecimento da atual gestão.
Análise
A crise provocada por uma frase evidencia as dificuldades do governador em manter coesa sua base política enquanto tenta expandir alianças. Ao mesmo tempo, reforça a importância da comunicação política em tempos de polarização intensa. Para analistas, o episódio deixa um alerta: em um ambiente já tenso, cada palavra tem peso e consequência.