Polemica na nova temporada de Black Mirror

Da Redação
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Na sétima temporada de Black Mirror, a série retorna com um soco no estômago logo no episódio de estreia, Common People, disponível na Netflix desde a última quinta-feira. A trama acompanha Amanda e Mike, um casal comum, querido e esforçado, cuja vida muda radicalmente quando um tumor cerebral obriga Amanda a implantar um dispositivo inovador que, embora oferecido de forma “gratuita”, transforma sua mente em plataforma publicitária involuntária.
O episódio, que mistura romance, drama e ficção científica, revela um mundo onde a sobrevivência está condicionada ao pagamento contínuo por um serviço de manutenção cerebral — inicialmente de 300 dólares por mês, mas que logo exige atualizações mais caras para cessar efeitos colaterais absurdos, como recitar jingles involuntariamente. A crítica social é afiada: ao escancarar o domínio das big techs sobre a vida cotidiana, o episódio provoca um incômodo real nos espectadores.
Nas redes sociais, o desconforto causado pela história foi evidente. O episódio não assusta com monstros ou fantasmas, mas com uma distopia plausível, onde empresas controlam até o pensamento — uma provocação ainda mais irônica por vir justamente de uma plataforma de streaming.
Além de cutucar a lógica dos upgrades e da precarização dos serviços, Common People também traz à tona o debate sobre os limites éticos da neurotecnologia. Com implantes cerebrais e integração corpo-máquina em pauta, o episódio reforça a urgência da discussão sobre os chamados neurodireitos — ideia defendida por pensadores como Rafael Yuste, da Universidade de Columbia. A proposta visa proteger a privacidade mental e evitar que o uso de neurotecnologia aumente ainda mais as desigualdades sociais.
Enquanto o futuro se aproxima, Black Mirror nos lembra que, mesmo embalada como inovação, qualquer tecnologia sem regulação pode se tornar uma prisão disfarçada. E se Amanda e Mike vivem hoje uma ficção, talvez seja justamente para que o amanhã não repita o mesmo enredo.