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“O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, estreia no Brasil com Wagner Moura em papel intenso e Tânia Maria roubando a cena

Longa vencedor em Cannes representa o país no Oscar 2026, mas divide opiniões com seu tom autoral e narrativa fragmentada

Por Ana Lucia
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Acaba de chegar aos cinemas brasileiros “O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, e já apontado como um dos títulos mais comentados da temporada. A produção, que vai representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2026 na categoria Melhor Filme Internacional, venceu em Cannes 2025 os prêmios de Melhor Ator e Melhor Direção — mas está longe de ser uma unanimidade.
A trama se passa em 1977, no Recife do Carnaval, e acompanha Marcelo (Wagner Moura), um homem atormentado por seu passado violento que tenta recomeçar ao lado da família, mas descobre que o caos o segue onde quer que vá.
É um thriller urbano, de ritmo tenso e atmosfera melancólica, que reflete a relação de Mendonça com sua cidade natal — e com o próprio cinema.
O longa nasce da mesma veia nostálgica de Retratos Fantasmas (2023), documentário em que o diretor mergulha na história dos cinemas de rua do Recife. Aqui, o olhar é igualmente afetivo: o centro da cidade, decadente e pulsante, torna-se personagem.
O resultado é uma obra intensa, autoral e profundamente regional, no melhor sentido do termo — ainda que alguns críticos insistam em rotulá-la como “regional demais” por não se passar no eixo Rio–São Paulo.
Mas o filme não é isento de falhas. Há lacunas narrativas, perguntas sem resposta e um clímax desperdiçado, que deixa a sensação de um enredo em movimento constante, sem fechamento. Ainda assim, a direção de Mendonça é elegante, sua câmera passeia por Recife como quem tenta capturar a alma de uma cidade que muda sem parar — e talvez por isso mesmo nunca se conclua.
Entre os pontos altos, o maior destaque não é Moura, nem o elenco estelar que inclui Gabriel Leone e outros nomes de peso, mas sim Tânia Maria, de 78 anos. A atriz potiguar, descoberta em Bacurau, surge como Sebastiana, uma presença magnética e humana, que emociona e dá sentido à desordem do filme. Sua atuação rendeu menção na Variety como possível indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante — ainda que, segundo ela própria, “nem saiba o que é o Oscar”.
No fim, O Agente Secreto é menos sobre espionagem e mais sobre observar o que passa despercebido: a cidade, as pessoas, o tempo. Um filme que não entrega respostas, mas oferece uma experiência — densa, bela e inquieta — sobre o que é viver e resistir em meio ao caos.

GED

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