Polícia

“Tribunal do CV”: denúncia revela torturas e execuções impostas por facção no Complexo da Penha

Ministério Público do Rio detalha funcionamento de “tribunais do tráfico” e uso de extrema violência para manter domínio territorial

Uma denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) revelou o funcionamento de um verdadeiro “tribunal do tráfico” comandado pela facção Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha, zona norte da capital fluminense. O documento, elaborado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), descreve cenas de tortura, agressões e execuções usadas como forma de punição e intimidação de moradores.

As informações foram baseadas em investigações com quebra de sigilos telemáticos, que expuseram a atuação de líderes e soldados do tráfico na manutenção do controle territorial. Entre os denunciados estão Juan Breno Malta Ramos, conhecido como “BMW”, e Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”. Segundo o MPRJ, ambos determinavam e executavam castigos contra pessoas que desrespeitassem as regras impostas pela facção.

Em um dos episódios descritos, uma vítima foi arrastada nua por uma via pública enquanto era filmada e agredida. Em outro registro anexado ao processo, criminosos planejam a tortura de uma mulher identificada como “brigona”, que seria colocada dentro de uma banheira de gelo após uma discussão ocorrida em um baile funk. Os vídeos mostram os agressores fazendo piadas sobre o sofrimento das vítimas.

A denúncia serviu de base para uma megaoperação policial deflagrada nesta semana, que deixou 121 mortos e resultou na apreensão de armas e drogas. O MPRJ aponta Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”, como o principal líder do CV na região. Ele coordenaria, por meio de grupos de WhatsApp, ordens de execução, punições internas e estratégias do tráfico.

O órgão afirma que os chamados “tribunais do CV” funcionam como mecanismos paralelos de coerção, em que decisões sobre castigos, torturas e mortes são tomadas de forma sumária, sem qualquer controle estatal. O objetivo é manter o medo e o silêncio dos moradores, impedindo denúncias e fortalecendo o domínio criminoso nas comunidades.

O caso reacende o debate sobre o avanço das facções no Rio e o desafio das forças de segurança em recuperar o controle territorial. Especialistas afirmam que o uso de tribunais do tráfico representa um retrocesso civilizatório, em que grupos armados substituem o Estado e impõem uma lógica de terror.

GED

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