Marconi Perillo é citado em suspeita de irregularidades no restauro do Jockey Club de São Paulo, aponta UOL

Reportagem revela que empresa goiana Elysium, ligada a nomes próximos ao ex-governador, teria sido indicada para gerir R$ 83,6 milhões em obras financiadas por verbas públicas; documentos sugerem uso duplicado de notas fiscais e vínculos familiares em contratos
Uma investigação do UOL trouxe à tona, neste domingo (19/10/2025), suspeitas de irregularidades no processo de restauração do Jockey Club de São Paulo, projeto que movimentou R$ 83,6 milhões em recursos públicos oriundos da Lei Rouanet e do TDC (Transferência do Direito de Construir).
Segundo a reportagem, o ex-governador de Goiás e presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, teria indicado a produtora cultural goiana Elysium Sociedade Cultural para gerir parte das obras — afirmação negada veementemente por ele.
Os documentos obtidos pelo portal indicam reaproveitamento de notas fiscais para justificar simultaneamente R$ 22,4 milhões em verbas federais e R$ 61,2 milhões em incentivos municipais, algo que configuraria irregularidade contábil. A Prefeitura de São Paulo rejeitou as contas, abriu auditoria interna, e a Controladoria-Geral do Município (CGM) apura possíveis devoluções de valores.
🔍 Rede de empresas e vínculos familiares
De acordo com a apuração, a Elysium, dos empresários João Carlos, Wolney Alfredo e Sebastião Unes, foi credenciada como Organização Social de Cultura (OSC) em Goiás em 2014, por decreto de Marconi Perillo.
Entre as contratadas pela Elysium, a empresa Sapé, que tem como sócia Débora Perillo, prima do ex-governador, recebeu valores por aluguel de geradores em Santo Antônio de Goiás — serviço sem relação com as obras no Jockey.
Outras fornecedoras listadas incluem a Biapó Construtora, ligada a sócios da Elysium, e a Vidal Construtora, que teria recebido R$ 11,2 milhões, embora não opere nos endereços registrados.
Ainda segundo o UOL, até despesas pessoais e administrativas teriam sido pagas com dinheiro público, incluindo contas de restaurantes, hotéis, confeitarias e farmácias em Goiânia. Há registros de jantares em estabelecimentos de luxo como Osaka e Dom Mariano, além de gastos com chá-mate, sal de frutas e água.
O Ministério da Cultura (MinC) declarou que custos administrativos são permitidos, desde que proporcionais e sem o uso de bebidas alcoólicas. A Elysium respondeu que “não houve consumo de álcool com recursos públicos” e que todos os projetos possuem aprovação e rastreabilidade no Sistema Salic, o banco de dados da Lei Rouanet.
🧾 Situação do Jockey e resposta das partes
O Jockey Club de São Paulo, que enfrenta dívidas superiores a R$ 800 milhões, também é alvo de investigações. Apesar dos valores investidos, vistoria do UOL apontou que partes do prédio seguem deterioradas, com vidros quebrados, buracos e fiação exposta, mesmo após o repasse milionário.
Em nota ao portal, Marconi Perillo negou qualquer participação na escolha da Elysium ou de empresas contratadas.
“Não participei de nenhuma escolha. Qualquer ligação com meu nome é uma leviandade absurda. Conheço Débora apenas de vista”, afirmou o ex-governador, classificando as menções como “coincidência infeliz”.
O presidente do Jockey Club, Marcelo Motta, defendeu que, por se tratar de uma instituição privada, as contratações são de responsabilidade exclusiva do clube.
“Há uma tentativa insana de manipular a opinião pública. Todos os processos de prestação de contas estão dentro da legalidade”, declarou.
A Elysium Sociedade Cultural, em nota oficial, reafirmou sua atuação ética e transparente, assegurando que todas as ações têm aprovação do MinC e acompanhamento técnico do Iphan.
“É inverídica qualquer vinculação a eventuais indicações políticas. Temos mais de três décadas dedicadas à preservação do patrimônio cultural brasileiro”, afirmou a empresa.
🏗️ Obra sob questionamento
O restauro do Jockey — considerado o maior complexo art déco da América Latina — foi iniciado em 2018 e apresentado como uma das mais ambiciosas obras de preservação histórica do país. O caso, porém, expõe falhas de fiscalização e gestão no uso de verbas públicas via incentivos fiscais culturais.
A Controladoria-Geral do Município de São Paulo e o Ministério da Cultura informaram que as investigações continuam, e que as prestações de contas do projeto seguem sob análise técnica. Até o momento, o MinC afirmou não ter identificado irregularidades financeiras graves, mas confirmou que acompanha o processo de auditoria municipal.
Enquanto isso, o caso adiciona um novo capítulo à trajetória política de Marconi Perillo, que atualmente preside o PSDB e tenta reconstruir sua imagem nacional. A repercussão do episódio reacende o debate sobre o uso político de leis de incentivo à cultura, a transparência na gestão de projetos culturais e o limite entre indicações técnicas e influência política em obras financiadas com dinheiro público.