Valor das criptomoedas despenca e queda em 2018 já é maior que a da “bolha da internet”
Ativos digitais já perderam 80% de seu valor médio neste ano, aponta índice de acompanhamento
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As criptomoedas parecem estar em queda livre em 2018. Segundo o indicador CryptoCompare de ativos digitais da MVIS, que acompanha as cotações das 10 principais moedas virtuais, o valor médio caiu mais de 80% desde janeiro.
Analistas indicam que um grande “choque de realidade” está tomando conta das criptomoedas, que teriam sido infladas à base de especulação. “O que vemos é a massiva bolha especulativa que toda essa ‘coisa cripto’ é, como muitos de nós já haviam avisados”, comentou à Bloomberg Neil Wilson, analista chefe de mercado em Londres da Markets.com.
Quem está sofrendo mais com a perda de valor são os que apostaram em moedas virtuais menos robustas, que sofrem impacto mais imediato da retirada de investimentos. Mas as principais também estão a perigo: a ether, segunda maior criptomoeda do mundo, já acumula queda de 40% em setembro. Já o bitcoin, apesar da relativa estabilidade dos últimos meses, parece não ter forças para recuperar os níveis estratosféricos atingidos no ano passado.
A queda abrupta dos valores já suscita comparações de analistas com a “bolha da internet”, que estourou no final do século passado. Na época, um período de grande especulação financeira foi motivada pelo barateamento e rápida expansão dos computadores em boa parte do mundo, com investimentos em diversos novos serviços digitais que sequer eram estruturados. A tentativa de compra da Time Warner pela AOL, em que a empresa interessada era muito menor que a que seria adquirida, simbolizou o momento.
A Nasdaq, bolsa de valores automatizada que concentra principalmente pequenas e médias empresas, atingiu um valor recorde artificialmente, e grandes empresas como Dell e Cisco, desconfiadas, resolveram vender alguns ativos antes que o pior viesse. O movimento caiu no mercado como o início de um dominó, e em cerca de um mês a bolsa eletrônica perdeu mais de US$ 1 trilhão em investimentos, e pouco depois caiu para um quarto do valor atingido no pico da especulação.
Como aponta a Bloomberg, no caso das criptomoedas, a empolgação inicial veio da expectativa de que o bitcoin se tornasse o “ouro digital” de nossos tempos, e que a tecnologia blockchain revolucionasse qualquer setor econômico. No entanto, o sistema ainda não pegou em muitos deles, e a regulamentação – e até banimento – de moedas virtuais em alguns países colocou dúvidas sobre o real potencial da novidade.
A diferença entre o caso atual e o de décadas atrás, é que, apesar de fazer muita gente perder dinheiro, um eventual fracasso das criptomoedas não traria tantas consequências no “mundo real”, justamente porque a tecnologia não foi ainda disseminada como muitos esperavam. De acordo com a Bloomberg, as perdas neste ano somam US$ 640 bilhões, bem abaixo dos trilhões que vazaram da Nasdaq na virada do século. Mas, proporcionalmente, a queda das moedas virtuais já é mais representativa que a anterior das empresas “pontocom”.
A questão é, afirmam os analistas consultados pelo veículo, justamente se as moedas virtuais poderão, ou não, se tornar de fato decisivas para a sociedade algum dia. “Até ser possível pagar os impostos me criptomoedas, não será nada mais do que um investimento sem sentido. Algumas pessoas farão caminhões de dinheiro, mas a maioria não irá”, aposta Neil Wilson.