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Safra 19/20: menos gordura e mais risco

Estamos no início de julho e os preparativos para a safra 19/20 já estão a todo vapor. No entanto, o “montar” do próximo ano agrícola tende a ocorrer em um ambiente de negócios muito mais desafiador que nas safras anteriores. E uma das principais incertezas, sem dúvida, diz respeito ao cenário de preços das principais commodities agrícolas.

Do lado da soja, em que pese o atraso no plantio da safra norte-americana e as dúvidas em relação à área a ser colhida, os elevados estoques de passagem atrelados às incertezas em relação às importações chinesas diante do surto de peste suína africana sugerem que a redução de produção global teria que ser muito grande para se observar mudanças estruturais nas cotações. Nas estimativas do Itaú BBA, para que tenhamos um aumento significativo das cotações é preciso desaparecer do mercado global cerca de 40 milhões de toneladas de soja.

Para o algodão, o cenário extremamente favorável dos últimos anos dificilmente se repetirá na próxima safra.  Isso porque a área produzida globalmente deverá aumentar como resposta aos elevados preços da pluma em relação às cotações das outras culturas alternativas.  Estimativas do USDA apontam que a produção global de algodão na safra 19/20 deverá ser de 27,4 milhões de toneladas, aumento de 6% sobre ano anterior.

No caso do milho, as recentes altas nos preços internacionais na esteira das desafiadoras condições do plantio nos Estados Unidos parecem ter aberto boas oportunidades de fixação de preços para o próximo ano.  E a estratégia de antecipação das vendas pode ser prudente, pois caso tenhamos um avanço da área produzida no Brasil e na Argentina (em resposta aos bons sinais de preços atuais) combinado com um aumento de intenção de plantio no EUA para a safra 20/21, as cotações futuras poderão ser pressionadas.

Incertezas adicionais na formação de preços tem origem também no comportamento da taxa de câmbio. O grande risco está na possibilidade de ser observada uma valorização do Real a reboque da reforma da Previdência e de outras medidas estruturais que possam reduzir a percepção de risco do País. Isso merece especial atenção, pois a aquisição de insumos, que tem suas cotações atreladas ao dólar (fertilizante e defensivo), está ocorrendo a uma taxa de câmbio que pode ser bem superior àquela observada no momento da colheita e posterior comercialização dos produtos. Se isso de fato acontecer, é provável que produtores possam ter margens inferiores às esperadas no momento de planejamento da safra.

É importante destacar que esse cenário mais incerto se descortina em um ambiente em que a fixação de preços para a próxima safra está cada vez mais difícil. E grande parte disso é explicado pela posição mais conservadora das tradings na precificação aos produtores diante das dúvidas decorrentes da guerra comercial entre China e Estados Unidos e do valor do frete no próximo ano.

Enquanto a disputa entre Estados Unidos e China traz incertezas adicionais sobre as cotações futuras de Chicago e dos prêmios no Brasil dificultando a tomada de posições, a diferença do valor do frete entre o que é praticado atualmente pelo mercado e o sugerido pela tabela pode absorver todo o ganho esperado da trading.  Para Sorriso, no MT, por exemplo, a diferença de valor entre as duas referências de precificação chega a R$ 6, a saca de soja, ou 10% do valor atual do grão na região. 

Assim, diante desse ambiente de maior risco da safra 19/20, é recomendável que o produtor seja prudente no gerenciamento do seu fluxo de caixa – com especial atenção ao descasamento cambial – e também nas decisões de investimento de modo a preservar a saúde financeira da empresa agrícola e não se colocar em posição de grande fragilidade.

Guilherme Bellotti é analista sênior de Agronegócio do Itaú BBA

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