Reportagem aponta contatos entre Moraes e presidente do BC durante análise de venda do Banco Master

Segundo o Estadão, ligações e reuniões teriam ocorrido no período em que o Banco Central avaliava a operação envolvendo o BRB; ministro afirma que tratou apenas de sanções internacionais
Durante o período em que o Banco Central analisava a operação de venda do Banco Master ao Banco de Brasília (BRB), contatos entre o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o presidente do BC, Gabriel Galípolo, teriam ocorrido fora da agenda oficial, conforme revelou reportagem do Estadão.
De acordo com a apuração publicada pelo jornal, Moraes chegou a telefonar seis vezes em um único dia para Galípolo para tratar do andamento da análise da operação envolvendo o Banco Master, instituição ligada ao empresário Daniel Vorcaro. Ao todo, segundo o Estadão, teriam ocorrido ao menos cinco conversas sobre o tema, incluindo uma reunião presencial, conforme relatos de fontes do meio jurídico e do mercado financeiro.
A operação de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília foi anunciada no fim de março e acabou rejeitada pelo Banco Central no início de setembro. Posteriormente, em novembro, o Banco Master foi liquidado pela autoridade monetária sob suspeita de fraudes bilionárias.
A reportagem afirma que a frequência e o teor dos contatos contrastam com a versão divulgada oficialmente nesta semana. Em nota, Alexandre de Moraes declarou que os encontros e conversas tiveram como objetivo exclusivo tratar dos impactos da Lei Magnitsky, legislação norte-americana que impôs sanções ao ministro em julho deste ano. O Banco Central confirmou que houve conversas, mas afirmou que o tema foi relacionado às sanções, sem usar o termo “exclusivamente”.
O Estadão também destacou que, à época dos contatos, havia divergências internas no Banco Central sobre a aprovação da operação. Ainda segundo a reportagem, Moraes teria reproduzido argumentos apresentados por Vorcaro, de que grandes bancos viam a atuação do Master como concorrência indesejada no mercado financeiro.
A matéria contextualiza ainda que o escritório de advocacia de Viviane Moraes, esposa do ministro, mantinha contrato com o Banco Master para prestação de serviços jurídicos em Brasília. O acordo foi encerrado após a liquidação da instituição financeira.
Após a divulgação do caso, parlamentares passaram a se manifestar sobre o assunto. O senador Alessandro Vieira anunciou a coleta de assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar a relação contratual e eventuais impactos institucionais.
Em meio à repercussão, Alexandre de Moraes reiterou, em nota oficial, que seus contatos com autoridades do sistema financeiro ocorreram exclusivamente para tratar de medidas relacionadas às sanções internacionais e afirmou ter mantido conversas semelhantes com representantes de bancos públicos, privados e entidades do setor.
O caso segue repercutindo nos meios político, jurídico e econômico, com pedidos de esclarecimento e discussões sobre os limites institucionais entre os Poderes.



