Renda média do trabalhador goiano chega a R$ 3.095, mas disparidades seguem elevadas

Dados da nova Síntese de Indicadores Sociais mostram concentração de rendimentos em Goiânia, ampliação da desigualdade de gênero e queda nos ganhos dos empregadores
Por Ana Lucia
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A divulgação de novos dados sobre o mercado de trabalho trouxe um retrato atualizado das condições de renda em Goiás e revelou contrastes que seguem marcando a estrutura produtiva do estado. A renda média real habitualmente recebida pelos trabalhadores goianos alcançou R$ 3.095 neste ano, segundo levantamento apresentado na última quarta pelo IBGE, dentro da Síntese de Indicadores Sociais (SIS). O número coloca Goiás ligeiramente abaixo da média nacional e expõe diferenças expressivas entre regiões e grupos ocupacionais.
No conjunto do país, o rendimento médio do trabalho principal atingiu R$ 3.208, valor que supera o registrado entre os goianos, mas permanece inferior ao observado nas capitais brasileiras. Nesse cenário, Goiânia se destaca com uma remuneração de R$ 4.090, diferença de 32,1% em relação ao restante do estado. A concentração de renda na capital reforça a dinâmica já conhecida de mercados urbanos mais estruturados, que oferecem postos de trabalho com maior qualificação e melhores condições salariais.
Um dos pontos de maior alerta no levantamento é a disparidade entre homens e mulheres. Os dados indicam que a desigualdade de rendimentos voltou a crescer. Em 2023, os homens recebiam, em média, 41% a mais do que as mulheres. Nesta sexta, dia 5, o levantamento revela que essa diferença aumentou para 42,4%. Enquanto eles recebem R$ 3.553, elas têm rendimento médio de R$ 2.495. A ampliação da diferença salarial alinha Goiás ao movimento nacional que ainda persiste, mesmo com avanços em escolaridade feminina e maior participação no mercado de trabalho. O cenário aponta para desafios estruturais relacionados à ocupação, acesso a cargos de liderança e distribuição desigual das responsabilidades domésticas, fatores que influenciam diretamente a renda.
A análise por posição na ocupação expõe contrastes adicionais. A categoria empregador permanece no topo do rendimento em Goiás, com média de R$ 7.315. Em seguida vêm os empregados com carteira assinada, que recebem cerca de R$ 2.669, seguidos pelos trabalhadores sem carteira, que ganham R$ 2.455. Na base da pirâmide estão os empregados domésticos sem carteira, com rendimento médio de R$ 1.254. Esses dados reafirmam a importância da formalização e da proteção trabalhista na elevação da renda e melhoria das condições de vida.
Apesar de ainda liderarem os rendimentos, os empregadores registraram queda expressiva de 17,9% em comparação ao ano anterior. A diferença entre o rendimento desse grupo e o dos trabalhadores informais diminuiu: o ganho, que era quase quatro vezes maior em 2023, passou a ser cerca de três vezes superior em 2024. A retração pode estar relacionada à desaceleração de alguns setores, aumento de custos operacionais ou mudanças na dinâmica de pequenos negócios, mais suscetíveis às variações econômicas.
O conjunto dos dados reforça a necessidade de políticas capazes de enfrentar desigualdades históricas no mercado de trabalho goiano, desde a promoção da igualdade de gênero até a ampliação da formalização e o estímulo à geração de empregos de maior qualificação. O diagnóstico apresentado pelo IBGE aponta caminhos e levanta debates essenciais sobre o futuro do trabalho no estado.



