Política

‘Pronunciamento diferente’: Bolsonaro convoca ato na Paulista com discurso contra STF e teste de força política

Em meio ao avanço das investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou para este sábado (28), a partir das 14h, uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo. O ato, que será o sexto desde que deixou o Palácio do Planalto em 2022, é visto por aliados e analistas como uma tentativa de medir sua capacidade de mobilização popular em um momento delicado do ponto de vista jurídico e político.

Durante transmissão ao vivo em um canal simpático ao seu grupo político, Bolsonaro antecipou que seu discurso terá um “tom diferente”, embora o foco central permaneça o mesmo: críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à condução das investigações que envolvem o ex-presidente e ex-integrantes do seu governo. “Infelizmente chegou o dia em que precisamos lutar por liberdade, por democracia, por justiça”, declarou.

Discurso com novo tom e velha pauta

Na live transmitida no canal AuriVerde Brasil, no YouTube, Bolsonaro sugeriu que adotará uma nova abordagem na manifestação deste sábado. “Tanto é que meu pronunciamento amanhã é um pouco diferente do que o pessoal está acostumado a ouvir”, disse, sem antecipar detalhes. Apesar disso, aliados próximos indicam que a manifestação manterá o foco na retórica de perseguição judicial e questionamento das instituições, especialmente o STF, que julga militares e civis envolvidos na trama golpista após as eleições de 2022.

A estratégia parece mirar na reaproximação com parte do eleitorado que começa a dar sinais de distanciamento, diante das sucessivas derrotas jurídicas e da ausência de lideranças consolidadas que representem a direita institucionalmente no país.

Governadores aliados reforçam apoio

O evento deste sábado contará com a presença confirmada de quatro governadores alinhados a Bolsonaro: Cláudio Castro (PL-RJ), Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A adesão das lideranças estaduais é vista como um gesto político importante em um momento no qual o ex-presidente busca manter coesa a base bolsonarista e pressionar o Judiciário com demonstrações públicas de apoio.

Entre os governadores, Tarcísio é figura central no evento por ser responsável pelo estado que sedia a manifestação e por manter uma postura ambígua: ora alinhado a Bolsonaro, ora tentando se distanciar do extremismo mais radical do bolsonarismo. Sua participação, portanto, será observada de perto por analistas políticos.

Julgamento da trama golpista: pano de fundo do ato

O principal pano de fundo do ato é o julgamento em curso no STF sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, no qual Bolsonaro é citado como mentor ou beneficiário de ações antidemocráticas. A manifestação deste sábado tem, nesse sentido, duplo objetivo: mobilizar apoio popular em defesa do ex-presidente e pressionar o Judiciário.

A defesa de Bolsonaro alega perseguição política e ausência de provas, enquanto o Supremo avança com depoimentos, delações premiadas e análises técnicas que, segundo a Procuradoria-Geral da República, indicam tentativa de ruptura institucional.

Testes de força e agenda para 2026

Para além da pauta jurídica, o evento na Paulista será um termômetro da força política de Bolsonaro no campo da direita conservadora, em especial com vistas às eleições municipais de 2024 e à eleição presidencial de 2026. Embora inelegível até segunda ordem, o ex-presidente tem buscado manter influência direta sobre pré-candidaturas em várias capitais, além de consolidar nomes da nova geração bolsonarista.

Analistas avaliam que, mesmo fora das urnas, Bolsonaro tenta se manter como principal nome de oposição ao governo Lula e como figura central na articulação da direita. A manifestação deste sábado poderá oferecer pistas sobre até que ponto ele ainda consegue mobilizar massas em sua defesa, especialmente após as prisões de aliados e o desgaste acumulado.

Impacto na segurança e fechamento de vias

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que adotará esquema especial para o ato, com bloqueios na avenida Paulista e presença reforçada da Polícia Militar, inclusive com o uso de drones e câmeras de reconhecimento facial. O entorno do Masp e principais vias de acesso ao centro deverão ser monitorados para evitar confrontos e garantir a fluidez do trânsito.

A expectativa é de que milhares de apoiadores compareçam, muitos vindos de caravanas organizadas por movimentos bolsonaristas e igrejas evangélicas.

Bolsonaro em busca de sobrevida política

Desde que deixou o cargo, Jair Bolsonaro tem enfrentado uma sequência de investigações e processos que colocam em xeque sua elegibilidade e liberdade. Com o avanço do julgamento do caso das joias sauditas, da minuta do golpe e dos ataques às urnas eletrônicas, o ex-presidente tenta usar as ruas como campo de resistência política.

Resta saber se o novo tom prometido para o discurso de sábado representará de fato uma mudança de estratégia ou apenas uma reembalagem de narrativas já conhecidas. A presença dos governadores e o volume de participantes devem ser os principais indicadores da força real que o ex-presidente ainda mantém.

GED

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