“Ninguém pode negar a nossa vitória, que chegamos aqui, e sou mulher! e se cheguei aqui, outras podem também!
A vereadora Valéria Pettersen conversou com nossa reportagem em seu gabinete, falou sobre sua eleição para o Legislativo Municipal, de projetos que está apresentando na Casa de Leis e afirmou que através da sua eleição a mulher agora tem vez e voz na Câmara Municipal de Aparecida
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A sua eleição e a da vereadora Camila Rosa quebraram alguns paradigmas na Câmara Municipal que sempre foi essencialmente masculina, como vocês estão se sentindo com a responsabilidade de serem as porta-vozes da mulher no Legislativo Aparecidense?
Valéria Pettersen: É bem interessante, se olharmos a história das eleições municipais, apenas três mulheres foi eleitas, mas, nesta última eleição foram duas eleitas, eu e a vereadora Camila Rosa e queremos dizer que estamos unidas em defesa da mulher. Não estamos em uma guerra de sexo, mas, é notório que o olhar masculino não consegue perceber muitas vezes as necessidades básicas da mulher em vários aspectos. Nossa cultura e país é essencialmente machista, a nossa cidade também é machista, durante a eleição eu perdi muitas lideranças que diziam que não seria capaz de eleger uma mulher para a Câmara Municipal e nos abandonaram, diziam: neste partido você não vai, é impossível se eleger no MDB, esse partido já possui vários vereadores e ex-vereadores e você não tem base no município. A Camila também sofreu a mesma discriminação, então, estar nesta casa de leis, eleita pelo voto popular é muito importante, e defender as mulheres é muito especial, porque a mulher necessita de mais espaços e oportunidades, estamos lutando por mais vagas para as mulheres na educação infantil, nas creches. Que ela vá para o seu trabalho com tranquilidade e segurança, e também tenha apoio psicológico. Um grande número de mulheres são agredidas por homens. Temos a Lei Maria da Penha? Temos! mas vamos fazer uma reflexão, mulheres que vivem em um relacionamento abusivo precisam de apoio e atenção, mas, também é preciso também oferecer ao companheiro dela um acompanhamento psicológico, a visão é ter um resultado satisfatório para as famílias e para a sociedade. Na Câmara estaremos apresentando projetos importantes que ajudarão a mulher. Estamos também trabalhando em parceria com o Poder Executivo e junto às secretarias para que de fato possamos fazer a diferença para as mulheres aqui no Legislativo, faremos um trabalho que seja modelo nessa Casa de Leis e no município. Não queremos tampar o sol com a peneira, a mídia mostra a mulher que foi agredida, mas será que ela mostra o destino final do agressor?, o que aconteceu com ele? Se ele saiu, foi preso, ou se teve acompanhamento psicológico e assim por diante. Muitos dizem o seguinte: O homem agride porque a mulher agride também, mas, existem casos em que a mulher se quer abre a boca. Precisamos mudar essa cultura que é muito machista. É necessário que a mulher busque espaços e oportunidades, pois têm competência para isso. Se avaliarmos os espaços; verificaremos que a mulher precisa avançar, quantas mulheres ocupam secretarias no município? Quantas são presidentes de partidos ou fazem parte da executiva? Quantas fazem um trabalho que se destaca e outras pessoas podem ver? Quase nenhuma! No momento em que os partidos fazem acordos políticos e indicam nomes, quase que a totalidade de homens são indicados, porque as mulheres, de fato, não se destacaram, ou mesmo se destacando, os homens querem ofuscar o brilho, ou apagar a luz que elas possuem. Ninguém pode negar a nossa vitória, que chegamos aqui, e sou mulher! e se cheguei aqui, outras podem também! Nossa eleição para essa Casa de Leis é um marco, um divisor de águas e com certeza está trazendo muita reflexão para o universo feminino, estamos abrindo portas!
JGD: Você já elaborou ou está elaborando algum Projeto de Lei que inclui políticas voltadas para a mulher?
Valéria Pettersen: Sim! Quando fui secretária de Educação trabalhamos um Projeto Lei Maria da Penha na Escola, estruturado com o Juízado da Mulher e com a Defensoria Pública. Esse projeto estamos apresentando aqui na Câmara Municipal ele tem alguns ingredientes que poderão ajudar o município a ir na raíz do problema, não podemos tratar dos efeitos somente, temos que atacar as causas, só a Lei Maria da Penha não resolverá os problemas de agressão contra a mulher, precisamos implementar ações dentro da nossa realidade. Estou separando tempo para estudar o que está sendo feito em outros lugares, inclusive em outros países, o que tem dado certo, estaremos trazendo como exemplo para nossa cidade. Estamos dialogando com outras mulheres, com a vereadora Camila, com seguimentos organizados da sociedade, para que efetivamente possamos criar políticas públicas que possam ajudar a mulher.
JGD: Em Aparecida de Goiânia temos visto, alguns assentamentos irregulares. Vi você se envolvendo em um debate acerca desse assunto, de que forma a Câmara Municipal pode ajudar na solução desse problema?
Valéria Pettersen: Hoje temos oito assentamentos no município, a maioria deles tem infraestrutura, um tem 16 mil habitantes, outro tem 12 mil, outro tem 6 mil, outro tem 4 mil, outro tem 3 mil e outro cerca de um mil habitantes, é bom que se diga que uma parte já recebeu escritura, é minima, mas os moradores já receberam, acredito que é possível avançar numa negociação entre prefeitura e Agehab para que mais famílias recebam as suas. Temos ainda as invasões que é um caso mais grave, são invasões em áreas privadas, e ainda outras em locais que não podem haver moradias, que não são possíveis de regularização, por exemplo: próximo ao Cepaigo, cerca de cinquenta metros de lá! Então, precisamos de projetos que possam organizar isso, hoje temos uma legislação que trata assentamentos de forma ampla, que ajuda na organização, onde é possível deslocar recursos para ajudar e isenção de taxas para legalizar. Vamos observar o que a legislação federal, estadual e a municipal diz sobre o assunto. O Vereador William Panda assumiu a Secretaria de Habitação e juntamente com a Comissão de Habitação aqui da Câmara farão um trabalho harmônico para ajudar na regularização desses assentamentos. É preciso avançar numa legislação municipal em relação a habitação. É preciso ter uma legislação própria para as invasões, é certo que a grande maioria desses invasores não precisam de habitação, existe muita malandragem nessas invasões, é preciso separar quem de fato precisa, daqueles que estão aproveitando. Fazer um cadastro sério de regularização de cada pessoa, negociar essas áreas de forma justa, onde for possível ser feito e dar garantias para aqueles que vivem alí há muito tempo. É possível fazer? É, hoje temos instrumentos legais para fazer, basta apenas boa vontade e trabalho.
JGD: Qual é o projeto que você está trabalhando em relação a Educação no município?
Valéria Pettersen: Estamos dialogando com o Secretário Municipal de Educação, professor Divino, com o deputado federal professor Alcides Ribeiro que trouxe emendas com outros deputados federais para a Educação em Aparecida, que é uma referência no estado. Hoje temos cerca de vinte mil crianças fora das escolas do município, então temos uma demanda muito grande e precisamos avançar mais ainda, não será apenas construindo CMEI’s que vamos resolver o problema, precisamos fazer parcerias e convênios para que possamos atender quem mais precisa, gerando vagas para alunos do primeiro ao nono ano.