
Por Ana Lucia
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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, conhecida por seu engajamento religioso e cotada como possível candidata em substituição a Jair Bolsonaro, provocou repercussão ao compartilhar, em seus stories, uma foto do bispo Samuel Ferreira, líder da Assembleia de Deus do Brás, orando pelo presidente Lula. O encontro do presidente com pastores ocorreu ontem e também contou com a presença do advogado-geral da União, Jorge Messias, cotado para o STF. O que chamou atenção foram os três versículos bíblicos que Michelle incluiu: Apocalipse 22.11, Números 24.9 e Mateus 6.24, interpretados como críticas veladas ao bispo.
Segundo o pastor batista e doutor em hermenêutica bíblica Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek, a mensagem de Michelle tem duas perspectivas: reforçar o clima de guerra cultural entre direita e esquerda e alertar sobre um possível racha entre evangélicos que se aproximam do governo Lula.
O versículo de Apocalipse 22.11 enfatiza a escolha entre bem e mal, selando o caráter de cada pessoa. Dusilek interpreta que Michelle sinaliza que as posições políticas já estariam definidas, separando “justos” (direita) e “injustos” (esquerda).
Em Números 24.9, o texto sobre leões e bênçãos alerta para a consequência de se aliar a quem ela considera amaldiçoado, indicando que apoiar Lula seria compartilhar de uma maldição.
Por fim, Mateus 6.24 trata da impossibilidade da dupla lealdade: “Não se pode servir a Deus e a Mamom”, ou seja, lealdade dividida é impossível. Dusilek explica que Michelle apropria o texto para afirmar que não se pode servir a Deus e à esquerda.
O especialista critica ainda a instrumentalização da Bíblia: “A aplicação dos textos a isso é estupro bíblico e uma forma grotesca de se posicionar, aviltando a própria Bíblia”.
Com a ação, Michelle Bolsonaro reforça sua presença no debate político-religioso, utilizando a simbologia das escrituras para comunicar críticas indiretas e posicionamentos ideológicos, gerando repercussão entre seguidores e líderes evangélicos.