Economia & Negócios

Mercado pet movimenta bilhões e se reinventa com novas tendências no Brasil

Setor cresce acima da média nacional e aposta em inovação, bem-estar animal e humanização dos cuidados

O Brasil se consolida como um dos maiores mercados pet do mundo. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o setor movimentou mais de R$ 68 bilhões em 2024, mantendo um ritmo de crescimento constante e acima da média da economia nacional. O país ocupa a terceira posição no ranking global, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

A expansão é impulsionada principalmente pelo aumento no número de lares com animais de estimação e pela mudança no comportamento dos tutores, que enxergam seus pets como membros da família. Esse processo de “humanização” tem impulsionado o consumo de produtos premium, serviços especializados e experiências voltadas ao bem-estar animal.

Humanização e bem-estar ganham protagonismo

Nos últimos anos, os tutores passaram a investir mais em itens como rações super premium, brinquedos interativos, roupas, acessórios, petiscos funcionais e até terapias alternativas, como acupuntura e aromaterapia. O mercado também tem visto um aumento na procura por serviços personalizados, como pet sitter, creche canina, fisioterapia, planos de saúde e até psicólogos veterinários.

“Hoje, os pets ocupam um lugar de afeto e cuidado tão importante quanto outros membros da família. Isso muda a forma como as pessoas consomem e se relacionam com os produtos e serviços voltados para eles”, destaca Ana Carolina Mendes, especialista em comportamento animal e fundadora de uma clínica holística para pets em São Paulo.

Segundo ela, a preocupação com o bem-estar emocional dos animais aumentou, e os tutores estão mais atentos aos sinais de estresse, ansiedade e necessidade de socialização dos bichos.

Crescimento do setor impulsiona empreendedorismo

A expansão do mercado também aqueceu o empreendedorismo no segmento. Pequenas e médias empresas, startups e franquias têm ganhado espaço com ideias inovadoras, como aplicativos de adestramento online, marketplaces de produtos pet, delivery de ração com assinatura, espaços de recreação e até hotéis de luxo para cães e gatos.

“O mercado pet no Brasil é resiliente e cheio de oportunidades. Mesmo durante períodos de crise econômica, o consumo continua aquecido, o que o torna atraente para novos negócios”, afirma Ricardo Balthazar, analista de mercado da Pet Business Consulting.

Empreendimentos familiares também encontram espaço, como salões de beleza canina, padarias pet e lojas de acessórios personalizados. O setor movimenta diretamente cerca de 2,5 milhões de empregos no país, entre serviços, comércio e indústria.

Alimentação natural e sustentabilidade como tendências

Outra tendência crescente é a alimentação natural para cães e gatos. Sem conservantes, corantes ou ingredientes ultraprocessados, esse tipo de dieta tem ganhado a preferência dos tutores preocupados com a saúde dos animais. Diversas marcas brasileiras especializadas surgiram nos últimos anos, oferecendo cardápios elaborados por veterinários nutrólogos e entregues diretamente nas casas dos clientes.

“Sempre que posso, escolho alimentação natural para minha cadelinha, porque percebi que ela tem mais disposição e menos problemas digestivos. É um investimento na saúde dela”, conta Rebeca Lima, administradora de 38 anos, tutora de uma golden retriever em Belo Horizonte.

A preocupação com o meio ambiente também influencia o setor. Produtos biodegradáveis, embalagens recicláveis, uso de ingredientes orgânicos e políticas de bem-estar animal são fatores valorizados pelos consumidores. Marcas que adotam práticas sustentáveis ganham destaque e conquistam a fidelidade de uma clientela cada vez mais exigente.

Influenciadores e pets-celebridades movimentam redes sociais

O fenômeno dos “pet influencers” também tem papel importante no crescimento do mercado. Cães e gatos com milhares ou até milhões de seguidores no Instagram, TikTok e YouTube atraem contratos publicitários, parcerias com marcas e lançamentos de produtos próprios. Essas celebridades de quatro patas viraram uma poderosa ferramenta de marketing e aproximação com o público.

“Os pets influenciadores criam conexões afetivas com os seguidores, o que torna as campanhas mais autênticas e engajadas. Hoje, várias marcas têm em seus briefings o desejo de trabalhar com um cão ou gato famoso”, explica Mariana Torres, estrategista de marketing digital especializada no setor pet.

Entre os mais famosos, estão cachorros que ensinam truques, gatos com figurinos inusitados e até coelhos que participam de vídeos educativos. Com isso, os pets também se tornaram protagonistas da comunicação no ambiente digital.

Desafios e perspectivas para o futuro

Apesar do crescimento, o setor ainda enfrenta desafios, como a informalidade em parte dos serviços, a falta de regulamentação em algumas áreas e a necessidade de qualificação profissional. Outro ponto sensível é o abandono de animais, que continua sendo um problema estrutural no país.

Entidades de proteção animal alertam para a importância do consumo responsável e da adoção consciente, lembrando que o aumento da demanda por produtos e serviços deve estar alinhado ao compromisso ético com os cuidados a longo prazo.

Para os próximos anos, a expectativa é de que o mercado pet brasileiro continue em expansão, acompanhando o avanço tecnológico, o fortalecimento do e-commerce e o surgimento de novas demandas dos tutores.

“O setor caminha para ser cada vez mais especializado, diverso e atento às necessidades dos animais e das famílias humanas que os acolhem. É um mercado que, além de lucrativo, pode ser profundamente transformador em termos de qualidade de vida”, conclui Ana Carolina Mendes.

GED

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