Justiça determina reabertura de inquérito sobre morte de Lázaro Barbosa, o serial killer de Goiás

Decisão atende pedido do Ministério Público, que apontou falhas na investigação da conduta dos policiais envolvidos na captura do criminoso
A Justiça de Goiás determinou a reabertura do inquérito que apura a morte do serial killer Lázaro Barbosa, morto durante uma operação da Polícia Militar em junho de 2021. A decisão, que está sob segredo de Justiça, atende a um pedido do Ministério Público de Goiás (MPGO), que identificou falhas e lacunas nas investigações realizadas após o desfecho da caçada que parou o país.
Segundo informações obtidas e divulgadas nesta sexta-feira (24) pelo portal Metrópoles, o MP entendeu que o procedimento conduzido pela Corregedoria da Polícia Militar de Goiás (PMGO) e encaminhado à Polícia Civil (PCGO) apresentava vícios de investigação, deixando de realizar diligências consideradas essenciais. O inquérito interno da PM havia concluído que os policiais agiram em legítima defesa, mas o Ministério Público apontou a ausência de elementos técnicos e de depoimentos que sustentassem essa conclusão.
Fontes ouvidas pelo portal indicam que o MPGO identificou falhas graves: não foram colhidos depoimentos de testemunhas-chave, tampouco de todos os policiais envolvidos na ação; além disso, perícias básicas — como o laudo cadavérico detalhado de Lázaro Barbosa e o registro minucioso do local da morte — não constam no processo. Diante disso, o órgão pediu à Justiça a reabertura do caso, o que foi acatado.
Com a decisão, novas diligências serão realizadas. Policiais e familiares do criminoso deverão ser novamente ouvidos, e a investigação passará a incluir a análise de imagens de câmeras de segurança da região onde ocorreu a captura, em Águas Lindas de Goiás. O novo inquérito ficará sob responsabilidade da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), que tem prazo de até 80 dias para apresentar o parecer conclusivo.
A Polícia Militar e a Polícia Civil de Goiás foram procuradas para comentar a decisão, mas, até o momento, não se manifestaram oficialmente.
O caso que parou o país
A morte de Lázaro Barbosa de Sousa, então com 32 anos, encerrou uma das operações policiais mais intensas da história recente do país. Por 20 dias consecutivos, o fugitivo desafiou mais de 270 agentes das forças de segurança de Goiás e do Distrito Federal, escondendo-se em áreas de mata entre os municípios de Cocalzinho de Goiás, Edilândia e Girassol.
Lázaro foi morto no dia 28 de junho de 2021, em uma ação policial no município de Águas Lindas de Goiás, após ser denunciado por moradores que o teriam visto no Residencial Itamaracá, onde vivia sua ex-sogra. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO), ele reagiu à abordagem e disparou contra os policiais, sendo atingido no peito, abdômen e cabeça. Chegou a ser levado a um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos.
O episódio encerrou uma caçada iniciada em 9 de junho daquele ano, após o assassinato brutal de uma família em Ceilândia (DF). Lázaro foi acusado de matar o empresário Cláudio Vidal, de 48 anos, e os filhos Gustavo Marques, de 21, e Carlos Eduardo Vidal, de 15, além de sequestrar e assassinar a esposa de Cláudio, Cleonice Marques, de 43, cujo corpo foi encontrado dias depois em um córrego de Sol Nascente (DF).
A fuga de Lázaro mobilizou helicópteros, cães farejadores, drones e centenas de policiais. Durante as buscas, ele invadiu chácaras, fez reféns e chegou a balejar três pessoas, o que ampliou o pânico entre moradores da região. Comerciantes de Cocalzinho chegaram a fechar as portas, e famílias deixaram suas casas com medo de ataques.
No dia 24 de junho, a operação prendeu o fazendeiro Elmir Caetano Evangelista, de 75 anos, e o caseiro Alain Reis dos Santos, suspeitos de ajudar o criminoso a se esconder em áreas rurais. O caseiro foi solto dias depois, enquanto o fazendeiro teve a prisão convertida em preventiva e se tornou réu no processo.
A morte do criminoso encerrou oficialmente a operação, mas levantou questionamentos sobre o uso da força e a transparência nas investigações. Em 2 de julho de 2021, o corpo de Lázaro foi enterrado em Cocalzinho, em uma cerimônia reservada à família. Poucos dias depois, o inquérito sobre o caso foi encerrado pela Polícia Civil, sob alegação de legítima defesa.
Nova apuração e dúvidas persistentes
Com a reabertura do inquérito, o caso volta ao centro do debate jurídico e público. O Ministério Público busca esclarecer se houve execução sumária, negligência em perícias ou eventuais excessos no uso da força por parte dos agentes envolvidos.
Fontes ligadas à investigação afirmam que o objetivo não é revisar a narrativa consolidada, mas garantir que todos os procedimentos legais tenham sido devidamente cumpridos — algo fundamental para assegurar a credibilidade das instituições e o direito à verdade dos fatos.
A expectativa é de que os novos depoimentos e laudos técnicos tragam respostas sobre as circunstâncias exatas da morte de Lázaro, que permanece envolta em dúvidas desde 2021. A reabertura do caso reacende não apenas o interesse público, mas também a discussão sobre transparência, controle policial e justiça em casos de grande repercussão nacional.



