Especialistas apontam cenário de cautela e crédito restrito para empresários goianos

No 12º Congresso da FACIEG, lideranças econômicas e analistas alertam para juros altos, inadimplência recorde e incertezas políticas; otimismo moderado fica para o agronegócio
Durante o 12º Congresso da FACIEG, realizado em Goiânia, economistas, executivos do setor financeiro e analistas políticos foram praticamente unânimes em um ponto: o momento pede cautela. Reunindo líderes empresariais de mais de 70 cidades goianas, o evento debateu as perspectivas macroeconômicas para 2026 — um ano que promete desafios, especialmente diante dos juros elevados, da inadimplência crescente e da instabilidade política nacional.
Crédito restrito e juros em patamar histórico
A diretora de Desenvolvimento da Central Sicredi Brasil Central, Cristieny Paiva, destacou que o crédito segue “desafiador” desde 2024, mas se agravou com a manutenção da taxa Selic em 15%, o maior nível em duas décadas.
“O mercado está mais cauteloso. Empresas e produtores precisam rever garantias, ajustar o fluxo de caixa e pensar de forma estratégica”, afirmou.
Cristieny também apontou que o país enfrenta recorde de inadimplência e de pedidos de recuperação judicial, afetando tanto cooperativas quanto bancos tradicionais. A expectativa, segundo ela, é de retomada apenas em 2027, quando a Selic deve cair para cerca de 12% ao ano.
Confiança e produção como pilares
O diretor-superintendente do Sicoob Nova Central, Ulisses Capistano, ressaltou que “crédito é confiança”.
“Sem confiança, não há crédito nem investimento. O crescimento depende de quem acredita no futuro e de quem confia no retorno”, declarou.
Apesar do cenário restritivo, Capistano vê perspectivas positivas no agronegócio, especialmente na produção de grãos no Centro-Oeste, que pode aquecer o comércio e os serviços regionais, mesmo com margens mais estreitas no campo.
Economia desacelera e política preocupa
O comentarista da CNN Brasil, Caio Coppolla, classificou o quadro nacional como “preocupante”, citando a situação fiscal do país e a tendência de estagnação da economia. Ele afirmou que mudanças estruturais só devem ocorrer próximo ao período eleitoral de 2026.
“O dinheiro está indo para os bancos, não para o consumo. Há 60 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho, muitos desmotivados pela dependência de programas assistenciais”, criticou.
Para Coppolla, o modelo de políticas sociais limita a mobilidade econômica:
“A máquina econômica é orientada para que o pobre consuma toda a renda, impedindo a ascensão social.”
Goiás se destaca como exceção
Apesar do tom de alerta, Coppolla elogiou o desempenho econômico de Goiás, que atingiu um PIB recorde de R$ 377 bilhões em 2024, sustentado pelo agronegócio e pela diversificação produtiva.
“O Brasil está destinado ao sucesso, mas Goiás já é um sucesso”, disse, afirmando que “onde o agro toca, a desigualdade diminui”.
Empreender com resiliência
O presidente da FACIEG, Márcio Luís, encerrou o congresso defendendo a manutenção do otimismo e da resiliência empreendedora.
“Vivemos um cenário de crédito limitado, com gestão pública que pouco estimula o empreendedorismo. Ainda enfrentamos gargalos como a falta de mão de obra qualificada e a defasagem do Simples Nacional, que empurra pequenos empresários para a informalidade”, afirmou.
Para ele, a união entre o setor produtivo e as cooperativas de crédito será essencial para enfrentar o período de instabilidade e preparar o ambiente de negócios para a retomada prevista nos próximos dois anos.



