‘Desconhecido’ no futebol, Samir Xaud caminha para ser presidente da CBF com chapa única e apoio de federações

Médico infectologista de Roraima registra candidatura única para comandar a CBF e propõe descentralização de poder, apoio à liga e foco na arbitragem
Pouco conhecido do grande público e sem experiência prévia na gestão de entidades esportivas nacionais, o médico e empresário Samir Xaud, de 41 anos, está prestes a se tornar o novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A eleição está marcada para o próximo dia 25 de maio, mas com chapa única registrada no domingo (18), a vitória do roraimense parece garantida — salvo alguma reviravolta judicial de última hora.
Samir conseguiu o apoio de 25 das 27 federações estaduais e de dez clubes das Séries A e B, o que inviabilizou qualquer outra candidatura. De acordo com o estatuto da entidade, são necessárias assinaturas de ao menos oito federações para o registro de uma chapa.
Com o afastamento judicial de Ednaldo Rodrigues e a convocação da eleição extraordinária pelo interventor Fernando Sarney, a CBF vive um momento de transição política. Samir Xaud, que ainda nem assumiu o comando da Federação Roraimense de Futebol — onde já está eleito para o mandato que começa em 2027, sucedendo seu pai, Zeca Xaud, após 50 anos no cargo —, desponta como novo rosto da cúpula do futebol nacional.
Trajetória e raízes no Norte
Com descendência libanesa, Samir se orgulha das origens e cita o avô como inspiração: “Foi o primeiro libanês a abrir um comércio em Roraima”, afirma. Médico infectologista com atuação de mais de uma década no serviço público estadual, ele já foi secretário de Saúde, diretor de hospital e presidente do sindicato dos médicos.
“Gerir uma entidade com dinheiro é fácil. Difícil é gerir uma com poucos recursos. A verdadeira gestão se faz mesmo nas menores localidades do Brasil”, disse ao justificar sua trajetória no futebol, marcada pela atuação como vice-presidente da federação estadual e pela assistência médica voluntária a clubes locais por oito anos.
Propostas para a CBF
Samir afirma que sua gestão será baseada em três pilares: descentralização do poder, capacitação da arbitragem e apoio à formação de uma liga de clubes para administrar o Campeonato Brasileiro.
“O que acontece hoje? A gente tem uma centralização de poder dentro da CBF. Víamos clubes e federações bem distantes das decisões tomadas pelo presidente”, pontuou. Segundo ele, será criado um conselho gestor com profissionais especializados, mas não necessariamente os vices eleitos. A possível nomeação do ex-presidente do STJD Flávio Zveiter como CEO, ventilada nos bastidores, foi classificada como “especulação”.
Quanto à arbitragem, a proposta é manter o plano atual de profissionalização iniciado na gestão de Ednaldo Rodrigues. “Qualificação é ponto-chave. Vamos manter os treinamentos intensivos e apoiar o plano de carreira.”
Relação com os clubes e resistência nos bastidores
Apesar do apoio massivo das federações, Samir admite que não conseguiu estabelecer diálogo com a maioria dos clubes. “Pedi que escutassem minhas propostas. Mas só oito clubes me ouviram. Fiz contatos com lideranças das ligas, falei por telefone, mas fiquei sem retorno.”
Parte dos clubes critica a condução do processo eleitoral e há resistência ao seu nome, especialmente por conta de sua origem em uma federação considerada periférica e com pouca representatividade no cenário nacional. Roraima atualmente possui apenas um clube nas quatro divisões do futebol brasileiro — o GAS, na Série D.
“Vejo preconceito, sim, por parte de alguns setores da imprensa. Mas o Norte faz parte do Brasil. Não se pode desqualificar alguém por ser do extremo norte. Os jornalistas esquecem do Armando Nogueira, um dos maiores da história, que veio de Xapuri, no Acre.”
Seleção brasileira: continuidade e blindagem a Ancelotti
Samir promete manter o técnico Carlo Ancelotti, que deverá assumir o comando da seleção após a Copa América. “Para mim é o melhor técnico do mundo. A ideia é blindar o Ancelotti, garantir autonomia e segurança jurídica para ele.”
Ele afirma também que Rodrigo Caetano e Juan, atuais coordenadores da seleção, continuarão nos cargos, assim como a atual comissão de arbitragem. “Não haverá caça às bruxas”, garantiu.