Nos trabalhos de mentoria que faço para gestão e planejamento de carreiras e no apoio a empreendedores, sempre concluo buscando que o mentorado tenha construído uma rotina com atividades que o ajudem no atingimento dos seus objetivos, definidos durante o processo.
A rotina muitas vezes é vista como algo não muito agradável pois traz uma repetição de atividades e pode colocar as pessoas no modo automático, sem espaço para novas experiências, para inovação ou a devida atenção aos detalhes e nuances no dia a dia.
Mas ao mesmo tempo, uma rotina representada no planejamento de uma agenda com atividades regulares, pode ser uma poderosa ferramenta no desenvolvimento de bons hábitos e também para o condicionamento de comportamentos positivos e produtivos.
Quando desenvolvemos um plano, estratégico ou não, de carreira ou para empreender, um dos grandes desafios está em como executar este. A recomendação adotada nas mentorias é você definir primeiro quanto tempo tem para dedicar ao seu plano, podendo ir de minutos por dia a dias inteiros e depois alocar as atividades definidas no plano, em um cronograma semanal.
Muito se fala sobre hábitos positivos e produtivos, e até em alguma técnica ou atividade ou exercício para desenvolvimento destes hábitos, mas como efetivamente algo se torna um hábito? Através da repetição, da regularidade e do aprendizado com a execução / prática.
É muito comum vermos as séries de exercícios nas academias de ginástica, que fazem parte do treinamento frequente das pessoas que buscam um condicionamento físico melhor, mais saúde e algum outro objetivo. Na gestão da carreira e no empreendedorismo o mesmo deve acontecer.
A busca por clientes (prospecção), a revisão das métricas do negócio, as atividades para aumentar seu Capital Social, a investigação de empresas e modelos de negócios, são atividades que devem fazer parte da rotina e da agenda dos profissionais e empreendedores e podem ser definidas e monitoradas, assim.
Uma agenda bem montada para a semana, com todas as atividades, permite um melhor desenvolvimento das características do ALFREDO (Atitude, Liderança, Foco, Resultados, Empatia, Disciplina e Organização – veja artigo específico). Isto fará sua agenda ser mais produtiva e contribuir efetivamente para o atingimento dos seus objetivos.
Também é desejável que se inclua na rotina os momentos de ócio, que incluem o descanso (horas de sono e quem sabe até uma sonequinha após o almoço) e os momentos criativos para se colocar em um ambiente e em condições que ajudem a reflexão, o desenvolvimento do seu reportório e o brotar de ideias.
Hoje mesmo estive em um cliente onde sou advisor de estratégia e marketing, quando descobrimos que alguns dos controles de atendimento ao cliente não estavam atualizados. A pergunta que deixei foi: em que rotina e de quem, deveria estar incluída a função de atualizar os dados dos clientes atendidos para follow-up e depois quem deveria revisar regularmente os indicadores de conversão. Estávamos justamente abordando a questão de uma orientação da empresa com o cliente no centro da estratégia e uma cultura analítica de dados, incluindo a medição dos objetivos, do desempenho, dos resultados, etc, sempre com o cliente no foco. A ideia é criar uma ou várias rotinas para as ações chave do plano.
Aprendemos em casa, na educação, sobre bons hábitos como arrumar a cama, dormir cedo para acorda cedo, cumprir com as obrigações antes da diversão, etc. Estes são hábitos, que fazem parte da rotina desde cedo.
Já se falou também que a prática, o treinamento é o que leva ao verdadeiro aperfeiçoamento, tendo até referencias como 10 mil horas de prática para se ficar como em algo (música, esportes etc). Tudo faz parte de uma rotina de atividades.
Outro fator que gosto de lembrar aos mentorados é que a rotina pode ter um aspecto competitivo. Imagine que dois candidatos com habilidades similares estão em busca de uma posição, empresa ou cliente, sendo que um deles monta um rotina que dedica do dobro de horas para esta busca. Quem terá mais chance de conseguir o objetivo?
A rotina deve ser ampla, e incluir um equilíbrio de atividades em diversas áreas, pois apesar do exemplo acima dar a impressão que se deve alocar o máximo de tempo para o atingimento de um objetivo e para eventualmente chegar lá antes da concorrência, não se deve ter um único objetivo (por exemplo profissional ou financeiro), de curto ou de longo prazo, e deixar todo o resto de fora da sua rotina, outras áreas como saúde, família etc. O desequilíbrio acaba cobrando seu preço, então o recomendado é ter objetivos amplos e equilibrados, planejar ações nas diferentes áreas, alocar o tempo necessário e competitivo e assim construir uma rotina produtiva e positiva.
Rotinas também podem contribuir para a criação ou o desenvolvimento de culturas corporativas. Já vimos rituais, por exemplo, para a celebração de conquistas, ou para rampa de novos colaboradores, ou para estar em contato com clientes e parceiros. É possível criar uma rotina para o empreendimento / empresa, além das atividades regulares individuais e com isto ir criando uma cultura corporativa que traga produtividade e resultados de acordo com seus valores.
Algumas empresas possuem as reuniões de post-mortem para cada projeto, que eu chamava de “Learning & Results”, então antes mesmo do projeto ser iniciado já se sabe que no final haverá uma documentação, uma análise dos resultados e dos aprendizados para que se possa evoluir e usar este conhecimento e as referências para os próximos projetos.
Uma rotina de aprendizado é característica das empresas de classe mundial, que buscam aprender e administrar o seu Capital Intelectual, com a frequência de atividades, como a reunião de “Learnings & Results”. Isto também pode se aplicar para indivíduos.
A administração do Capital Financeiro, muito relevante no empreendedorismo e na gestão pessoal, também deve ser incluída em uma rotina que envolve controles, análises e decisões sobre várias opções de alocação e busca de recursos.
A rotina as vezes é muito criticada, por engessar modelos e por ser uma muleta quando algo dá errado, levando a culpa porque as pessoas seguiram a ordem de execução das atividades planejadas, sem refletir ou flexibilizar sua prática e sem entender a razão de ser destas atividades. Aí a ferramenta ou técnica para implantação do seu plano deixa de ser produtiva e positiva, então isto requer uma atenção próxima e uma revisão constante, com engajamento de todos.
Pronto?
Como está sua rotina atual?
Dá para ser mais produtivo e positivo e criar bons hábitos?
Mãos à obra.
Elber Mazaro é assessor/consultor, mentor e professor em Estratégia, Tecnologia, Marketing, Carreiras/Liderança e Inovação/Empreendedorismo. Atua há mais de 25 anos no mercado, liderando negócios no Brasil e na América Latina. Possui mestrado em Empreendedorismo pela FEA-USP, pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação.