Cessar-fogo em risco: o que está por trás da nova ofensiva israelense em Gaza

Por Ana Lucia
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A retomada dos bombardeios israelenses neste domingo (19) sinaliza um ponto crítico na trégua firmada entre Israel e Hamas há apenas nove dias. O episódio expõe as fragilidades do acordo mediado pelos Estados Unidos, que havia sido celebrado como um dos mais significativos avanços diplomáticos desde o início da guerra, há mais de um ano.
Segundo analistas de segurança, a ação de Israel pode estar relacionada à crescente pressão política interna sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de ceder espaço ao Hamas e de não garantir a segurança das forças israelenses na região sul da Faixa de Gaza. Fontes próximas ao gabinete do premiê afirmam que a ordem de “retaliação forte” busca reafirmar o poder de dissuasão do Exército, em meio a críticas de setores conservadores e militares.
Por outro lado, o Hamas tenta se reposicionar politicamente como defensor da resistência palestina, mas sem assumir abertamente violações do cessar-fogo. A estratégia parece ser a de provocar Israel por meio de grupos aliados menores, testando a paciência de Tel Aviv sem comprometer oficialmente o acordo.
A cidade de Rafah, palco dos novos ataques, tem papel simbólico e estratégico. Situada próxima à fronteira com o Egito, é uma das últimas zonas de passagem de ajuda humanitária e um ponto de abastecimento essencial para civis e milícias. Qualquer escalada na região pode isolar ainda mais os palestinos, agravando a crise humanitária.
Internacionalmente, os Estados Unidos e a ONU pediram moderação, temendo que o episódio gere um efeito dominó. Washington, que articulou o cessar-fogo, tenta preservar sua imagem como mediador confiável no Oriente Médio, especialmente em um momento de tensão global e eleições americanas próximas.
O futuro do cessar-fogo dependerá da capacidade dos dois lados de conter respostas desproporcionais. Caso os bombardeios se intensifiquem, diplomatas avaliam que a trégua pode desmoronar completamente em questão de dias, reabrindo um ciclo de violência que o mundo tenta há meses interromper.