Carrefour enfrenta crise após boicote ao agronegócio brasileiro:Reação do Brasil força retratação

Da Redação
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A recente declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, gerou uma das maiores crises diplomáticas e comerciais entre o Brasil e a França nos últimos tempos. Ao anunciar, no dia 20 de novembro, que a rede francesa não compraria mais carne do Mercosul, Bompard causou indignação no Brasil, ao justificar a medida com alegações de que os produtos brasileiros não atendem às “exigências e normas francesas”. A medida foi uma tentativa de apoiar os agricultores franceses, que se opõem ao Acordo Comercial de Livre-Comércio entre a União Europeia e o Mercosul, mas acabou sendo um erro de proporções internacionais.
A resposta brasileira não demorou. Gigantes do setor de carne, como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carne à rede Carrefour no Brasil, afetando as gôndolas de mais de 150 unidades, especialmente em supermercados da rede que enfrentaram desabastecimento de produtos. A suspensão foi um movimento coordenado por 23 frigoríficos e representou uma reação direta às críticas do CEO francês à qualidade da carne brasileira.
A pressão política também foi intensa. O governo brasileiro, por meio do Palácio do Planalto e do Itamaraty, exigiu uma retratação formal. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, criticou o protecionismo europeu e cobrou uma resposta firme do Brasil, incluindo uma possível legislação para garantir reciprocidade econômica entre os países. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi direto ao ponto, afirmando que o Brasil não aceitaria ataques à qualidade de sua carne, que, segundo ele, atende às normas internacionais há 40 anos.
O boicote e as ameaças de embargo econômico criaram um cenário de crise para o Carrefour, que se viu obrigado a recuar diante da pressão. Na terça-feira (26), o grupo francês emitiu uma retratação formal, reconhecendo a “grande qualidade” da carne brasileira. Bompard enviou uma carta pessoal ao Ministério da Agricultura, pedindo desculpas e afirmando que “sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor”.
O episódio não apenas prejudicou a imagem do Carrefour, mas também trouxe à tona um debate mais amplo sobre as relações comerciais entre o Brasil e a União Europeia, especialmente no contexto da negociação do Acordo de Livre-Comércio. A crise teve repercussões políticas internas e internacionais, com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, criticando duramente as declarações de um deputado francês que comparou a carne brasileira a “lixo”. Lula reforçou a intenção do Brasil de avançar nas negociações do acordo com a União Europeia, ressaltando a importância estratégica do tratado para o país. Agora, mais de seis décadas depois, a relação Brasil-França volta a ser testada por interesses comerciais e protecionistas, com o agronegócio brasileiro no centro dessa disputa. O Carrefour, no entanto, espera que, com o tempo, a crise seja superada e a confiança do consumidor brasileiro seja restabelecida.