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Agro com jeito feminino

“É corriqueiro ser tolhida. A gente se acostuma a considerar como mais uma brincadeira [a disparidade entre gênero acaba sendo tolerada, mas existe]”, diz a gerente de relações governamentais da Corteva para o Brasil, Rosemeire Santos, sobre as dificuldades ainda enfrentadas pelas mulheres atuantes no agronegócio

Moacir Neto, de São Paulo (SP)*

Em passado recente, o agronegócio era um universo dominado – e não menos disputado – exclusivamente por homens. Tendência que cada vez mais começa a ficar no pretérito, se observados os números de uma pesquisa que aponta a participação cada vez mais incisiva das mulheres no setor. Os números não deixam dúvidas quanto à imersão delas em atividades ligadas ao campo, inclusive em cargos de liderança. Neste quesito, 30% das entrevistadas estão em postos de comando nas propriedades rurais. Índice que contrasta com outro dado, a participação de 2 mil delas em um congresso voltado prioritariamente a esse público.

Diante de tal quadro, entidades e empresas dedicadas ao segmento começam a analisar os números e também a fomentar iniciativas de valorização. Uma delas é a Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio, da Corteva Agriscience. “A academia foi um grande prazer. Mostrou que a gente tem de sair do casulo, trocar informações”, diz a produtora rural Rose Cerrato, de Baixa Grande do Ribeiro, município localizado no interior do Piauí. Há 19 anos, ela se dedica à atividade e afirma que o principal desafio é enfrentar as dificuldades internas, ou seja, as subjetivas.

Em seminários, ela busca trocar informações e diz que é fundamental a participação de associações e cooperativas, com o intuito de estimular as mulheres a participar mais e debater, inclusive, desigualdades de gênero no campo. “As dificuldades são internas, ou seja, a gente precisa romper um ciclo e enfrentar os desafios. Não encontro dificuldade externa”, diz a produtora, que cultiva soja, milho e algodão.

A opinião de Rose coaduna com os dados colhidos e apresentados pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), responsável pela pesquisa com cerca de 300 mulheres que atuam no setor de agronegócio no País. No levantamento, também foi identificado que, se comparada à indústria, que possui um índice de 22% de mulheres atuantes, e a área de tecnologia com 20%, a liderança feminina ganha destaque nas operações do ciclo da agricultura e pecuária.

Em tal contexto, a coach especialista em desenvolvimento de lideranças Carolina Valle Schrubbe, certificada pela Marshall Goldsmith Stakeholder Centered Coaching, comenta que, até há pouco tempo, o agronegócio era dominado pela presença masculina e o estudo chamou a atenção pelo porcentual de mulheres atuantes no setor.

E mais: 71% das entrevistadas, conforme a pesquisa conduzida pela Abag, já enfrentaram problemas motivados por questões de gênero, apontando, sobretudo, dificuldade em serem ouvidas e de ascenderem profissionalmente, mesmo que sejam capacitadas para isso.

“As mulheres que sobrevivem e se destacam em um mercado inóspito, transformam dificuldades em desafios propulsores de suas carreiras. Elas costumam investir em doses extras de dedicação, estudo e aperfeiçoamento constante. Para se destacarem, muitas vivem uma eterna busca pela perfeição profissional”, diz Carolina.

Horizonte que inspira participação e debates. Minimizar o gap de gênero no campo é uma das principais preocupações da Corteva. Também com base em pesquisa realizada pela empresa em 17 países, as mulheres puderam expressar as principais lacunas observadas. Dentre elas, carências na educação acadêmica – que, invariavelmente, resultam em problemas financeiros e sociais -, treinamento (sobretudo em relação ao uso da tecnologia), apoio e suporte (sobretudo jurídico), divulgação de atribuições e também junto à opinião pública.

“É corriqueiro ser tolhida. A gente se acostuma a considerar como mais uma brincadeira [a disparidade entre gênero acaba sendo tolerada, mas existe]”, diz a gerente de relações governamentais da Corteva para o Brasil, Rosemeire Santos (foto, à dir.), ao argumentar com base na pesquisa que “tínhamos dúvidas sobre a participação e aceitação das mulheres. Estamos, agora, no estágio de avaliação de abordagens, trabalhando perfis homogêneos”.

Rosemeire lembra que o projeto da Academia tem por objetivo preparar as mulheres para exercer liderança no agronegócio. “Elas ampliam a participação, têm preparo e se posicionam, mas ainda se sentem tolhidas”, lamenta a executiva da Corteva, que conversou com jornalistas na terça, 8, o primeiro dia de realização do 4 º Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio (CNMA), no qual a companhia também realizou a formatura das primeiras produtoras rurais que participaram de programa de capacitação.

No total, formaram as primeiras 20 mulheres que passaram pela Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio em 2020. Lançada ano passado, a iniciativa é uma parceria da Corteva com a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Abag, visando capacitar mulheres brasileiras que atuam no agronegócio.

A Corteva criou a Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio a partir dos resultados da pesquisa realizada pela própria empresa em 2018 com mais de 4 mil produtoras rurais em 17 países – sendo 500 entrevistadas no Brasil – para entender as barreiras que impedem as mulheres de terem uma participação plena e bem-sucedida no agronegócio. Entre as brasileiras que responderam à pesquisa, 80% afirmaram ter o interesse de receber mais treinamento e oportunidades acadêmicas.

Os módulos de capacitação oferecidos pela Academia focam em liderança, boas práticas agrícolas, temas regulatórios, ciência política e sustentabilidade. E, ainda, novas formas de governança e estratégias de gestão. “O agronegócio brasileiro é um dos mais competitivos do mundo e milhares de mulheres já trabalham em nossos campos, seja na produção, na administração ou na pesquisa científica. Contudo, ainda não recebem o reconhecimento adequado. Precisamos mudar essa realidade e a Academia vai ao encontro dessa necessidade”, afirma Rosemeire.

Ações

No estande da Corteva no Congresso, foram realizadas outras ações com o tema Juntas, inspiramos o melhor do agronegócio, conceito que será trabalhado durante todo o mês de outubro, quando se comemora o Dia Mundial da Mulher Rural (15 de outubro), com ações online e offline de colaboradoras e parceiras da Corteva com a hashtag #SouMulherdoAgro.

Ainda no espaço, foram expostas fotos registradas pela revista Vogue Brasil e feitas em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). No ano passado, a Corteva foi patrocinadora da exposição que levou essas imagens em que é retratada a vida de mulheres que vivem da terra em diversos países da América Latina.

Dia Mundial da Mulher Rural

Como parte das ações que acontecem no mês em que é celebrado o Dia Mundial da Mulher Rural (15 de outubro), será lançada, na segunda quinzena de outubro, a websérie documental Cultivando as Próximas Histórias, que traz cinco episódios, gravados em sete países, incluindo o Brasil. Nos capítulos, as mulheres apresentam a relação com a produção rural, as dificuldades e os desafios que fazem do agronegócio seu modo de vida. A personagem da websérie do Brasil, Fernanda Favoreto, é uma das participantes da Academia deste ano.

Além disso, numa parceria entre a Corteva Agriscience e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), será feito, na terça, 15, em Brasília, o lançamento do livro Warriors (Lutadoras), produzido pela Corteva e IICA, com participação de autoridades renomadas do setor.

Os cinco capítulos da websérie e a versão em PDF do livro Lutadoras para download estarão disponíveis a partir de 14, no www.mulheresnoagro.corteva.com.br. “A relevância da mulher no agronegócio é uma bandeira que a Corteva levanta globalmente. Por meio dessas ações em celebração ao Dia Internacional da Mulher Rural, queremos colaborar para aumentar a visibilidade da mulher no setor e para que tenham condições de desempenhar seu ofício com todos os direitos garantidos”, explica a executiva Vivian Bialski, diretora de Comunicação da Corteva para América Latina.

Empoderamento

A edição deste ano do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) teve como tema Agir – Ação Global: Integração de Rede. Durante dois dias as participantes acompanharam uma série de ações que destacaram a contribuição das mulheres como aceleradoras das inovações que conduzem o agronegócio no Brasil e no mundo. Foram cinco painéis, oito Arenas de Conhecimento, 1ª edição do #MinhaVozNoAgro, 2º Prêmio Mulheres do Agro, Rodadas de Negócio Nacional e Internacional, lançamento do Livro Mulheres do Agronegócio, dentre outras.

“Com a presença cada vez mais marcante da mulher em posições de importância no setor, temos no Congresso uma oportunidade de reunir essas representantes e promover um espaço para debates e, principalmente ouvi-las, visando entender quais são seus objetivos e angústias”, destaca a diretora do CNMA, Renata Camargo.

 

Com informações de agência/Corteva/Presse

*o repórter viajou a São Paulo a convite da Corteva

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