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Imagens de satélite confirmam massacres em El-Fasher; Europa fala em cenário “apocalíptico” no Sudão

Relatórios apontam execuções, violência sexual, sequestros e saques após tomada da cidade pelas Forças de Apoio Rápido; Reino Unido anuncia nova ajuda humanitária

Porto Sudão / Manama – 1º de novembro de 2025Novas imagens de satélite analisadas pelo Laboratório de Investigação Humanitária de Yale indicam que massacres e ataques a civis continuaram em El-Fasher, capital de Darfur do Norte, uma semana após a cidade ter sido tomada pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), em guerra contra o Exército do Sudão há quase três anos. A situação levou chanceleres europeus a classificarem o quadro como “apocalíptico” e “horrível”, com alertas para fome, execuções sumárias e uso sistemático de estupro como arma de guerra.

O laboratório reporta múltiplos pontos com evidências consistentes com corpos em áreas urbanas, campus universitário e instalações militares, além de zonas queimadas ao redor da cidade entre 25 e 30 de outubro. Organizações humanitárias como Médicos Sem Fronteiras temem que um grande número de desaparecidos esteja morto ou detido durante tentativas de fuga.


Reações internacionais e ajuda anunciada

Durante conferência no Bahrein, autoridades da Alemanha, Jordânia e Reino Unido condenaram as atrocidades. A chanceler britânica Yvette Cooper informou nova contribuição de cerca de US$ 6,6 milhões em assistência humanitária a Cartum, além de compromissos anteriores. Chanceleres ressaltaram que as FAR serão responsabilizadas por crimes contra civis.

As Nações Unidas estimam dezenas de milhares de pessoas ainda presas na região, mesmo após cerca de 65 mil terem conseguido fugir. Relatos de sobreviventes descrevem assassinatos em massa, espancamentos, crianças baleadas diante dos pais e saques. Comunicações seguem intermitentes, dificultando o socorro e a verificação independente.


Quem controla o quê e por que a cidade é crucial

A queda de El-Fasher, último grande reduto do Exército em Darfur, deu às FAR o controle das cinco principais cidades da região e criou um corte leste–oeste no país: militares regulares mantêm áreas no norte, leste e centro, enquanto os paramilitares consolidam terreno no oeste. Especialistas alertam que a violência avança para Kordofan, com riscos de expansão das atrocidades.

Desde o início da guerra, tanto FAR (originadas das milícias Janjaweed) quanto o Exército foram acusados de crimes de guerra. Há denúncias de apoio externo com envio de armas e drones aos grupos, negadas publicamente por alguns países citados. A disputa remonta à ruptura entre os generais Abdel Fatah al-Burhan (Exército) e Mohammed Hamdan Dagalo (FAR), antigos aliados após o golpe de 2021.


FAR promete punir abusos, mas há ceticismo

Em nota recente, as FAR afirmaram ter detido combatentes acusados de atrocidades — entre eles, um comandante visto em vídeos de execuções — e prometeram “responsabilização”. No Conselho de Segurança da ONU, porém, houve dúvidas sobre a disposição real dos paramilitares em investigar crimes cometidos por suas próprias tropas. Entidades pediram que países interrompam o fornecimento de armas aos grupos em conflito.


Panorama humanitário: fome, deslocamento e hospitais sob risco

Com 18 meses de cerco antes da queda da cidade, fome generalizada e escassez de insumos médicos agravam o cenário. Hospitais — inclusive o infantil de El-Fasher — foram atingidos ou abandonados, e equipes humanitárias reportam ataques e impedimentos ao trabalho. O acesso seguro a corredores humanitários é apontado como urgente para evitar um quadro ainda mais dramático.

GED

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