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Enfraquecimento do Hamas amplia risco de conflitos internos na Faixa de Gaza

Por Ana Lucia
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A perda de força política e militar do Hamas, após mais de dois anos de guerra, tem gerado temor de que a Faixa de Gaza mergulhe em disputas entre facções e clãs locais. O acordo de cessar-fogo firmado recentemente com Israel deixou o grupo islâmico sob pressão para entregar as armas, abrindo espaço para a ascensão de lideranças rivais em diferentes regiões do território.

Desde a trégua, o Hamas tenta restabelecer controle sobre Gaza. Enfrenta, porém, resistência de clãs tradicionais que passaram a desafiar sua autoridade. Confrontos recentes resultaram em dezenas de mortes, evidenciando o enfraquecimento do grupo. Em meio a esse cenário, o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, vem acompanhando os desdobramentos do acordo de paz e manifestando apoio à estabilização da região, permitindo que o Hamas mantenha operações de segurança interna por tempo limitado.

Analistas internacionais avaliam que, em um território devastado e com milhões de pessoas retornando a áreas destruídas, qualquer vácuo de poder pode desencadear novos episódios de violência. O temor é que as rivalidades históricas entre famílias armadas transformem Gaza em um mosaico de disputas locais.

Entre os principais grupos envolvidos nos recentes embates estão clãs tradicionais como Abu Shabab, Doghmosh, Al-Majayda e Hellis. O primeiro, concentrado na região de Rafah, é liderado por Yasser Abu Shabab, acusado pelo Hamas de colaborar com Israel. Já o clã Doghmosh, um dos mais influentes, mantém antigos arsenais e ligações com diferentes facções palestinas, inclusive o Fatah e o próprio Hamas. Nos últimos dias, combates entre integrantes do Doghmosh e combatentes do Hamas deixaram mortos de ambos os lados.

Em Khan Younis, o clã Al-Majayda também entrou em confronto com milicianos do Hamas após a prisão de membros acusados de homicídios. O embate resultou em várias vítimas e agravou a tensão no sul da Faixa de Gaza. Em outra frente, o clã Hellis, baseado na Cidade de Gaza, mantém atuação em áreas parcialmente ocupadas por forças israelenses, o que amplia o risco de novos confrontos internos.

Autoridades internacionais alertam que a fragmentação de poder pode dificultar o processo de reconstrução de Gaza, já em curso com apoio financeiro de países árabes e europeus. Enquanto o Hamas tenta manter sua posição, cresce a influência de lideranças tribais que veem na instabilidade uma oportunidade de fortalecer sua presença política e militar.

O futuro de Gaza depende agora da capacidade de as facções evitarem uma nova escalada de violência e de o acordo de paz resistir às pressões internas. No momento, o território vive um frágil equilíbrio entre o cansaço da guerra e o temor de uma nova disputa pelo poder.

GED

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