Política

O que dizem especialistas sobre a entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional

O desempenho de Jair Bolsonaro na entrevista ao Jornal Nacional nesta última segunda-feira (22/8) dividiu integrantes das alas política e ideológica do governo e da campanha à reeleição do presidente

Só tem um jeito do resultado do Jornal Nacional ser melhor para o presidente Jair Bolsonaro: se Lula e Ciro Gomes não rivalizarem com os entrevistadores. Houve uma mudança muito positiva no formato das entrevistas de 2018 para cá. E não há um único questionamento sobre o conteúdo e a verificação de fatos feita por William Bonner e Renata Vasconcellos. Foram irretocáveis.

Em todos os temas debatidos, eles apresentaram dados, foram firmes mas compostos e tentaram ouvir o presidente. Não há dúvida de que ganharam no conteúdo. Perderam é no contexto, ao escolher o tabuleiro errado de jogo e o tom professoral. Arrogância é bicho que come o dono. Talvez eu passe a repetir isso em todos os textos para compartilhar a mudança que foi para mim entender meu tom arrogante de jornalista. Quem tem 30 anos de carreira foi treinado em outro contexto, numa lógica em que as autoridades se sobrepunham ao povo e o jornalismo era a voz das pessoas.

Precisávamos aprender a confrontar gente poderosa cara a cara, coisa fácil na bravata e difícil na prática. É um treinamento que nos molda mas precisa ser revisto na era dos populismos reacionários. Um populista trabalha para fazer uma conexão direta com o que chama de “povo”. Ele é a única voz possível para fazer valer os interesses do “povo” contra as elites ou o “establishment”, que obviamente ele jamais definirá direito de que se trata. Se for reacionário, essa imagem será construída a partir das reações que propõe contra as elites e das reações das elites à sua atuação. Vivemos a mágica do poderoso que se vende como oprimido e o pessoal compra.

Jair Bolsonaro como governante é como um trem descarrilando. Como populista, conseguiu o que queria, se humanizar para uma audiência muito maior que sua bolha de paquitas políticas. Da mesma forma que é possível construir “Fake News” usando só verdades também é possível ganhar um debate usando só mentiras. Depende do objetivo final. A escolha dos temas foi o que mais favoreceu Jair Bolsonaro, centrada em questões que importam aos ricos e à classe média que já o rejeitam: democracia, corrupção e meio ambiente.

O calcanhar de Aquiles do presidente é sua realidade. Somos o maior produtor de proteína bovina do mundo e os mercados estão botando alarme na carne, as pessoas estão na fila do osso de boi e inventaram compostos de resto de soro de leite para vender.

A maioria dos municípios tem mais gente vivendo de auxílio do governo do que de emprego. Quase metade da população brasileira está endividada. O auxílio de R$ 600 não faz uma compra de mês que preste devido à política econômica do governo. Estamos batendo recorde de pessoas endividadas, a maioria da população. Enquanto isso, 75% das famílias continuam gastando mais do que ganham porque o dinheiro não sobra, segundo apontou a pesquisa “Empréstimos pessoais e hábitos dos brasileiros”, encomendada pela Globo.

A liberação de armas tornou as periferias muito mais violentas nas relações intrafamiliares e sociais, criando um problema que o aparato policial não tem como resolver. Os brasileiros não estão dormindo por causa desses problemas. E daí a primeira pergunta é sobre urna eletrônica. O tom e o contexto são tão importantes quanto o conteúdo e não foram cuidados. Há um ponto específico que eu aprendi no livro “A Eleição Disruptiva – Por Que Bolsonaro Venceu”, de Mauricio Moura e Juliano Corbellini. É de 2019, reli esta semana.

Temos um vício de não levar a sério pessoas que consideramos intelectualmente inferiores e então passar a levar ao pé da letra tudo o que elas dizem. É o que ocorreu no diálogo sobre “virar jacaré” ao tomar vacina. Renata Vasconcellos tem toda a razão ao colocar que um chefe de Estado e de Governo jamais poderia falar assim. Mas, ao falar naquele tom contido, perguntando seriamente se era em sentido figurado, acabou se perdendo.

Dali em diante, Jair Bolsonaro se humaniza e mente sem sentir dor porque foi tratado pela “elite” do mesmo jeito que ela trata seus empregados, os pobres, evangélicos e iletrados, simplificando intelectualmente e ridicularizando. No final, é ele quem fala do que interessa sobre economia ao povo em seu minuto final. Os jornalistas ficam perdidos tentando desmentir o caminhão de lorotas ao vivo. Não é fácil, mas precisamos aprender como vencer debates contra valentões de recreio.

Internautas repercutem entrevista de Bolsonaro ao JN; veja os memes

A entrevista do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) ao Jornal Nacional, nesta segunda-feira (22/8), deu o que falar na internet. Personalidades e internautas repercutiram a participação do presidenciável nas redes sociais e temas relacionados à sabatina ocuparam os dez assuntos mais comentados do Twitter.

“Bonner”, “Globo Lixo”, “Bozo”, “Parabéns Presidente”, “Fora Bolsonaro”, foram algumas das hashtags mais comentadas no Twitter. Entre os apoiadores do atual governante do país, a crítica se direcionou aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, com apontamento de hostilidade nas perguntas, além de enaltecerem e parabenizarem a desenvoltura de Bolsonaro. “Globolixo agora ligaram o modo turbo em apoio ao presidente”, comentou Guto Barbosa.

Os cinco assunto mais comentados do Twitter após o fim da sabatina
Os cinco assunto mais comentados do Twitter após o fim da sabatina(foto: Reprodução/Twitter)

“O presidente Bolsonaro no início do debate já chamou Bonner de mentiroso e Fake News, a maioria dos brasileiros queriam chamar também”, comentou um dos apoiadores do presidente, identificado como Cleiton.

“O nojo pela Globo por parte dos brasileiros aumentou exponencialmente após esta entrevista maldosa, mentirosa e nojenta. Nosso Presidente respondeu com serenidade a todas as perguntas/ofensas e deixou claro por que é a melhor opção para o Brasil. Força Presidente! Estamos com você”, declarou outro eleitor de Bolsonaro, o Filipe Sabará.

Em crítica aos entrevistadores, Bonner e Renata, o diretor da Fundação Palmares, Marcos Petrucelli, também utilizou as redes sociais para opinar. “Bonner e Renata até que tentaram… cínicos e arrogantes, quiseram destruir a imagem do presidente, mas Bolsonaro é muito maior que eles”, tweetou.

Opositores geram memes

Já entre os opositores, as críticas se direcionaram às falas do presidente e os internautas refutaram diversas alegações do chefe do executivo, em certo momento da entrevista, a tag “Bolsonaro Mentiroso” também chegou a ficar entre as mais comentadas. O perfil Lucas, na rede social do passarinho, foi um dos que usou o termo “Bonner” para comentar a entrevista. “Eu acho que bonner e o bolso vão cair no soco até o final”, opinou.

Outra página no Twitter, chamada Nazaré Amarga, que acumula mais de três milhões de seguidores, também comentou as falas do presidente, com um tom bem humorado, e gerou memes. “Toda hora que o Bolsonaro falasse que o Bonner e a Renata estivessem mentindo poderia aparecer um VAR”, escreveu o perfil, fazendo referência à ferramenta tecnológica usada em partidas de futebol para rever lances e ajudar na tomada de decisões.

O influencer Lucas Selfie comentou alguns pontos das falas de Bolsonaro. Uma das que mais geraram repercussão nas redes foi a que o presidente diz que usou figura de linguagem ao sugerir que as pessoas que tomassem vacina contra a covid-19 poderiam virar ‘jacaré’. “Só não se vacinou quem não quis. Meteu essa”, escreveu Selfie.

A cantora Anitta, declaradamente apoiadora de Lula nas eleições de outubro, publicou uma foto da mão de Bolsonaro, em que carregava uma “cola” com assuntos que ele pretendia abordar durante a sabatina. Sem legenda alguma, a artista apenas compartilhou a foto, mas apagou minutos depois. No Instagram a musa se limitou a publicar um storie com a foto da televisão, mostrando que estava acompanhando a entrevista.

Anitta publica foto assistindo à entrevista de Bolsonaro ao JN
Anitta publica foto assistindo à entrevista de Bolsonaro ao JN(foto: Reprodução/Instagram )

O comediante Bruno Motta também acompanhou a sabatina. “Uai gente a entrevista com Bolsonaro não acabou? Liguei agora (a TV) e ainda to vendo falando de cramulhão, uns gado na tela, umas florestas queimadas…”, ironizou.

Jornalistas comentam a participação de Bolsonaro no JN

Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, na TV Cultura, publicou inúmeros tweets ao longo da entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional. “O momento chave da entrevista passou meio batido: Bolsonaro se comprometeu a aceitar o resultado da eleição “desde que sejam limpas”. Ou seja: não se comprometeu a aceitar o resultado”, escreveu.

A jornalista também afirmou que o maior medo da campanha do candidato à reeleição é ele ser rude com Renata, repetindo a conduta na sabatina do noticiário em 2018. “Bolsonaro minimiza o caos em Manaus, com pessoas morrendo sem oxigênio. E interrompe Renata Vasconcelos duas vezes. Primeiro com um “negativo” e depois com um “não é verdade”. Maior medo da campanha é ele ser grosseiro com ela”, disse Vera.

Andréia Sadi, âncora do Estúdio I, um noticiário da Globo News, e colunista do G1, também usou o Twitter para destacar alguns momentos da sabatina. “Bonner pergunta ao presidente Bolsonaro no #JN sobre 2018 x 2022 e o apoio do centrão. O casamento com centrão que, na eleição passada, era chamado pela sua campanha de ‘ladrão’”, pontuou.

O repórter internacional Raphael Tsavkko Garcia, especialista em direitos humanos e política, ao falar sobre a dificuldade de debater com o presidente, disse que Bolsonaro é um “mentiroso contumaz” e que ele “não tem problema em mentir, manipular declarações, sequer pisca”.

Já a antropóloga Débora Diniz, afirmou, por meio das redes sociais, que Bolsonaro “não tem compaixão”, ao relembrar as 600 mil vítimas da Covid-19 no país. “Uma das maiores mentiras criadas por Bolsonaro foi o de um governo técnico. Sim, basta ver os cinco ministros da educação. A fila de ministros da saúde. O fanatismo da ministra das mulheres”, contestou.

Veja alguns memes

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal **

Fonte: Noticas Uol

GED

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