
Em entrevista, ex-presidente afirmou que buscou “conselho de pessoas próximas” e negou tentativa de golpe; ele e o almirante Garnier são réus no STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar que discutiu a possibilidade de decretar estado de defesa e de sítio com os então comandantes das Forças Armadas logo após a derrota nas eleições de 2022. A declaração foi feita durante entrevista ao UOL, no último dia.
Segundo Bolsonaro, o diálogo com os militares ocorreu após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar os recursos apresentados por seu partido que contestavam o resultado eleitoral. Ao ser questionado sobre o motivo de ter recorrido ao alto comando das Forças Armadas, o ex-presidente justificou: “É o meu círculo de amizade, eu fui militar”.
O ex-presidente disse que consultou os comandantes para saber quais seriam suas opções “dentro das quatro linhas da Constituição”, e minimizou a gravidade dos encontros. “Discutir hipóteses de dispositivos constitucionais é antidemocrático? Acredito que o antidemocrático foi o que o TSE fez comigo”, afirmou.
Comandantes na mira
As conversas teriam incluído o general Freire Gomes (Exército) e o almirante Almir Garnier (Marinha). Segundo investigações da Polícia Federal, o almirante teria sido o único a sinalizar apoio à possibilidade de um golpe de Estado. Bolsonaro, no entanto, contestou essa versão: “O comandante da Marinha era o que menos falava. Ele dizia: ‘dentro das quatro linhas, estou junto’. Isso não significa que ele apoiaria um golpe”, disse.
Mesmo admitindo que o “estado de sítio foi estudado”, Bolsonaro negou que tivesse arquitetado qualquer ação contra a democracia. Ele e o almirante Garnier são atualmente réus no Supremo Tribunal Federal (STF), acusados de participação em uma tentativa de abalar a ordem institucional.
Debate continua
As declarações do ex-presidente reacendem a discussão sobre a atuação de líderes políticos no pós-eleição de 2022 e devem impactar as investigações em curso. Para especialistas em direito constitucional, mesmo a simples discussão de medidas como estado de sítio em um cenário eleitoral sem grave ameaça à ordem pode ser interpretada como um atentado à democracia.
Nos bastidores políticos, a entrevista gerou repercussão entre apoiadores e críticos, reacendendo polarizações e exigindo respostas tanto do Judiciário quanto das Forças Armadas sobre os limites da atuação política dos comandantes.